O Espetáculo vai começar! Por favor, desliguem os telemóveis.
Não se ouviu esta frase. Também nenhum telemóvel tocou. O público parece
já acostumado. Ou então é tão pobre que até os telemóveis têm medo de tocar
para não gastar bateria. Na verdade, nenhum telemóvel tocou. Parecia que não
havia mundo lá fora. Os Leitores/Atores ou Atores/Leitores ou simplesmente
aqueles que se prontificaram em agarrar no texto e preparar esta primeira
sessão das leituras encenadas foram magníficos. Ricardo Correia recorre ao
texto de Luíz Pacheco ("Cá em casa a nossa
cama é a nossa liberdade imediata. Tem os nomes que quiserem.") e
transforma-o em dramaturgia. O público não teve lugar na plateia. O público
éramos nós. Espetadores/Atores sentados ali. Mesmo ali naqueles colchões do
princípio ao fim. Naquela cama estavam todos. Entre movimentos mais e menos
apressados. Encontrões tão normais de quem está numa cama. Todos cabiam naquele
espaço tão minúsculo mas ao mesmo tempo tão livre. Ali, mesmo ali, cabiam todos
os sonhos do mundo.
Depois do espetáculo, há sempre um momento de
partilha e análise. Às vezes precisamos mais de ouvir do que falar. Ontem foi
assim para mim. Fiquei a pensar no espetáculo. Na brilhante condução
performativa de Ricardo Correia. Dei por mim, ainda no espetáculo, a pensar ‘… nem parece que
estão a ler.’
Hoje, depois de alguma reflexão, gostava de
salientar duas questões:
1 – A arte muda claramente a forma de ver o mundo;
2 – A Escola tem de abrir as portas ao mundo
artístico. Os Professores precisam de ser libertados da burocracia dos papéis e
viver mais estes momentos. Um aluno, mesmo o mais distraído, iria gostar muito
mais de analisar um texto sentado num colchão, por mais roto que estivesse, do
que na sua secretária chata e maçuda.
A Escola precisa ser reinventada. Este Clube de
Leitura tem a receita.
TAGV e d’A
Escola da Noite
Clube de
Leitura Teatral
dirigido por
Ricardo Correia e António Augusto Barros
Texto Sessão 1 - Luíz Pacheco: "Cá
em casa a nossa cama é a nossa liberdade imediata. Tem os nomes que
quiserem."
Fotografias de Cláudia Morais
ENTRADA LIVRE