As atitudes ficam com quem as pratica, é bem verdade, mas andar a ‘pregar’ valores de cidadania aos jovens nas Escolas de pouco ou nada adianta se o mesmo Estado que tutela os Professores, dando orientações para que o ensino insira as aprendizagens essenciais com o objetivo de capitalizar todos os esforços e nenhum aluno saia excluído, é o mesmo que tutela a Brigada de Trânsito e lhes permite que se escondam em carros descaracterizados numa autêntica caça à multa.
Onde estão os valores da cidadania
aplicados à sociedade?
É sabido que os automóveis ligeiros não
dispõem de mecanismos para gravar a velocidade, o que torna impossível qualquer
comparação ou refutação com os argumentos apresentados pelos elementos
fiscalizadores no momento em que informam que o condutor seguia a uma
velocidade superior à permitida por lei. Acresce ainda que após uma indicação
para encostar, verificados os documentos do condutor e da viatura, as palavras
proferidas são intimidatórias, uma vez que o condutor só tem a escolha de uma das
opções: ou paga a multa ou os documentos serão apreendidos. Ora, estando já os
documentos na posse do agente e necessitando dos mesmos para prosseguir viagem
e poder usar a viatura para deslocação diária para o exercício das funções
laborais, a opção do pagamento de multa é a solução escolhida, mesmo que se
possa considerar exagerada a aplicação da coima.
Mas é este o melhor que o Estado pode
fazer para combater a sinistralidade em Portugal?
Sem falsas modéstias, consideramos bem
mais pedagógico a utilização de radares com aviso prévio e até a presença da
GNR como força de sensibilização e proximidade, o que não se pode notar de todo
quando a multa é conseguida com o recurso a carros descaracterizados.
E se os Professores fizessem o mesmo aos
seus alunos? Achariam justo se o Professor, que bem sabe onde são os pontos
mais fracos de cada aluno, fizesse exames apenas das matérias que estes não
dominam?
O Estado também é isto, às Escolas
exige que se trabalhem valores de cidadania e justiça social, mas depois
deixa que outros se escondam para tramar os cidadãos!
(In jornal Povo de Fafe)