Será mesmo? Ou isso acontece se não se refletirem nos conteúdos?
Se trabalhar Saramago,
Memorial do Convento, claro que tenho de orientar os alunos para a obra e sua estrutura.
Há uma análise dos conteúdos estilisticamente, mas para mim é obrigatório
colocar os alunos a refletirem e discutirem sobre os assuntos abordados e a sua
aplicabilidade atual. Muitas vezes acabamos a uma análise mais profunda na
sociedade atual, mas cabe-me a mim ir gerindo de forma a comparar com a obra, o
que torna depois as sucessivas análises bem mais fáceis e, talvez, mais
importantes. Ou seja, a escola clássica não estará tão desajustada, apenas
precisa de afinações sérias e ajustadas...
A minha Faculdade
preparou-me para pensar e fazer pensar, eu sei que muitos não o fazem. A
questão é o ensino tradicional ou os professores tradicionais? Os que seguem
apenas as indicações dos manuais?
Há uma diferença grande
em ensino tradicional e ser robot tradicional...
Não me parece que tenha
de mudar o sistema de ensino, mas sim quem ensina...
Mas depois há outra
questão: os rankings?
É muito bonito querer um
ensino que põe os alunos a pensar, o que defendo sem hesitar, mas depois vêm os
rankings dos números que apenas dão relevo às 'melhores notas', ou seja, às
conseguidas à custa de muita memorização em detrimento do relacionamento e
atividades humanísticas que são tão essenciais para a construção do indivíduo.
É mais importante um
jovem ter um 20 ou ser um empreendedor e voluntário social? Envolver-se no
associativismo juvenil, contribuir para um mundo mais humano?
A Escola precisa mudar o
paradigma, mas tem de mudar as regras no ministério, e envolver-se
definitivamente em aprendizagem de conteúdos e ver a sua aplicabilidade
constante na sociedade. Isto é possível através de acordos com as autarquias e
associações e empresas locais. Por exemplo, se nas aulas são produzidos
trabalhos artísticos, estes devem merecer uma exposição com pompa e circunstância
numa junta de freguesia, numa casa da cultura, com jornais locais a divulgar e
as famílias na inauguração. Vamos criar motivação na construção, mas também
reeducar a sociedade em geral para a perceção e sensibilidade artística.
Certamente, aos poucos, os pintores, escultores, poetas... vão ter mais gente a
apreciar as suas obras de arte.
Cabe à Escola ser o
agente de Educação por excelência. Não basta mais centrar-se em si mesma, é
preciso ir para fora dos muros ou grades da Escola.
Esta é a mistura do
tradicional e do contemporâneo. Fazer o caminho até ao efetivo culto geral da
população.
É tão simples, criar um
projeto de intervenção que inclua Escola, autarquias, associações e famílias...
E usar os recursos
digitais?
Mas tem de ser tudo
digital? Isto não me convence. Não dispenso totalmente, mas não me parece que
temos de fazer tudo no digital... como nos querem fazer acreditar. E mais, as
Escolas têm recursos obsoletos...
Volto a dizer que a
Escola não tem de ir em modas, apenas deve atualizar-se. São coisas diferentes.
Serem só as tecnologias em detrimento do papel não concordo. Antes de um bom
projeto em digital, é preciso um esboço no papel. Escreve bem, quem risca e
rabisca melhor. Uma coisa não invalida outra. Tudo no digital, porque os
meninos aderem melhor, é tanga para os meus ouvidos.
É preciso perceber que
durante 20 anos não entraram professores... isso está a pagar-se a todos os
níveis.
(In jornal Povo de Fafe)