Lá no fundo do corredor. A tua voz. Outra vez. Era assim todos os dias. Já estranhava quando o estridente dos teus agudos não ecoavam como o chilrear dos pássaros. Sons repetidos. As mesmas formas. Iguais palavras tantas vezes. Precisavas arranjar justificação em cada momento contrariado. Mas ninguém tinha mais paciência. Estavas errada.
O meu pensamento era sempre teu. A minha teimosia não te deixava vencer,
mas tu não entendias o meu propósito. Não te queria chateada. Queria-te,
simplesmente! Apaixonada. Determinada. Agarrada aos meus braços com tanta
força. Tu não entendias. Nunca entendeste….
As pessoas riam. Nós fazíamo-las rir. Isso irritava-te. Eu sabia e não
parava. Porque te queria. Estranho jeito de amar. Bem o sabia, mas não tinha
outra forma de o fazer.
Aquele dia foi o melhor. O espetáculo foi de tal forma bem preparado que o teu papel não passou de secundário. Eu brilhei. A comédia fazia de mim o melhor dos atores, enquanto tu te atiravas a responder prontamente às minhas provocações. Fácil. Tão simples. Não sabias era que tu tinhas o papel principal. Tudo girava à tua volta.