terça-feira, 14 de outubro de 2014

O meu texto para a inauguração da Exposição "Formas de Saudade" de Pedro Figueiredo

 Metamorfoses da saudade

O corpo. A matéria. A vida. A apresentação do corpo em transformação no espaço. As esculturas de Pedro Figueiredo não se resumem à representação, ultrapassam a linha do metafísico no momento em que ganham vida própria e se assumem como personagens reais no cosmos.
A dialética entre os céus e a terra descobre-se nas figuras aladas que brincam com esferas. Nesta divinização, numa espécie de transformação do humano em semi-deus, é alcançada a tão desejada similitude. Temas mitológicos, animais e a representação do humano serão a voz da expressão de sentimentos e emoções, a arte em transformação.
Cada obra de Figueiredo conta uma história. É desenvolvida através de uma narrativa que não conhece o fim e permite ao observador/espectador/leitor ‘esculpir’ com o lápis da imaginação os traços que completarão essa mesma história ou, simplesmente, darão mais um contributo para a sua construção.
A singularidade de cada obra reside essencialmente na união da harmonia e do ritmo, no equilíbrio de um corpo aparentemente desequilibrado e numa mimesis da natureza em constante transformação.
A monocromia dá lugar à policromia e o jogo das cores faz a apologia à festa, ao encontro, à saudade. “Formas de Saudade” é uma celebração por excelência do ciclo da vida e de momentos enraizados na história e tradição onde a “tricana” arroga-se como símbolo inabalável. Cada escultura tem vida própria mas em conjunto evocam “o passar do tempo que não passa, o voar do vento que não voa”.
A partir das várias reflexões, diríamos que a junção das distintas obras de Pedro Figueiredo, num mesmo espaço, representa uma composição textual dramática por excelência. Figueiredo é o dramaturgo, que compõe cuidadosamente a sua obra, mas também é o encenador na orientação das suas personagens. Já as suas esculturas, com a mais convicta das certezas, são atores com vida e personalidade próprias e todos, até mesmo o escultor/criador, somos espetadores ou, quando muito, também atores neste palco do universo.
As obras de Figueiredo têm personalidade!

Pedro Sousa
Mestre em Estudos Artísticos pela Universidade de Coimbra