Hoje uma paciente entrou muito agitada no meu consultório. A sua
angústia era de tal modo perturbadora que pedi logo que se deitasse um pouco na
marquesa. Fizemos um jogo de respiração inicial, depois coloquei uma música
calma e disse-lhe simplesmente para fechar os olhos. Sentei-me no cadeirão e
esperei. Observava cada movimento das suas mãos, até que finalmente o
relaxamento tomava conta do seu corpo. Estávamos preparadas para iniciar a
sessão. Não a deixei levantar. Apenas pedi que me contasse o que a deixava tão
angustiada.
- O meu namorado. O meu
namorado não me fala do mesmo modo. O meu namorado já não me diz coisas
bonitas. A nossa vida são só discussões. Não conseguimos mais ter uma conversa
normal.
- Já lhe disse isso? Já tentou
falar com ele e dizer-lhe que precisam de parar para se ouvirem um ao outro? -
perguntei eu.
- Já tentei tudo, mas ele não
me ouve. Tem sempre que fazer na oficina. Está obcecado por mudar de carro e
precisa de dinheiro. Ele diz que não nos falta nada!
Às vezes o problema das pessoas
é só este. A falta de diálogo. A obsessão por ter mais e mais e esquecem-se do
mais importante, aqueles que estão ao seu lado. Os novos problemas não são mais
a falta de recursos materiais. Agora, as pessoas, que supostamente têm tudo,
queixam-se da falta umas das outras...
in sem chance