sexta-feira, 15 de junho de 2012

S. Francisco de Assis: A troca da vida farta pela pobreza

Ainda que possa não parecer, às vezes paro para pensar no que escrevo. Acredito que muitas das minhas palavras não são as mais apreciáveis, mas quem manda ler os meus artigos? As pessoas são livres e, tal como elas, a liberdade do meu pensamento ultrapassa qualquer limite de correntes e obsessões, medos e fantasias de mundos tão ofuscados por poderes controladores.


Eu sou livre porque penso e o (meu) pensamento não pode ser aprisionado.

Há momentos que dou por mim a pensar que seria muito mais fácil ser mais um maltrapilho que se deixa guiar por controladores de povos, guarda-rebanhos, mas logo me revejo numa posição pouco favorável à tão aclamada condição humana imposta nas leis de uma Grécia de outrora rica em filosofia e conhecimento.

S. Francisco de Assis é mais um daqueles modelos que merecem uma tenção particular. Não porque era rico e dava aos pobres, pois isto parecia mais ao que se apelida de ‘esquerda caviar’: mostrar que a bondade e as leis da igualdade, só depois de estarem bem fartos. Francisco de Assis, muito pelo contrário, deixou todos os luxos e mordomias e saiu para ajudar, sabendo que ao abandonar a casa paterna também deixaria o conforto de um lar. Ajudar sim, mas conhecendo, vivendo, presenciando a miséria do povo.

Muito mais importante do que saber que existem pessoas com dificuldade é presenciar essa mesma dificuldade. Sair do conforto dos gabinetes com ar condicionado e sentir a miséria com que uma família se depara para conseguir um simples prato de comida para o seu lar, as contas ao fim do mês, o passe dos filhos e os remédios para a doença crónica.

Enquanto a sociedade se revestir de capas ou mantos, mesmo que sejam castanhos iguais aos de S. Francisco, e por baixo não se passar mais do que a hipocrisia disfarçada, a minha escrita fará sentido, porque a cidadania não se faz de aparências e a religião de santidades disfarçadas.

Pedro Miguel Sousa, in Jornal Povo de Fafe (15-06-2012)