A
cultura portuguesa é muito previsível. Começa a roçar o sempre o mesmo e com
isso deixa de ter graça. Quando os heróis nos servem, são bajulados como se
fossem deuses, mas quando algum contratempo se torna num empecilho para
alcançar a vitória, aí a coisa muda de figura. Que raio de sociedade sem sal!
Não
se pode elogiar as pessoas só porque nos dão alegrias ou até algum jeito para
uma ou outra necessidade da nossa vida ou porque são pessoas importantes e ‘até
podemos vir a precisar delas’. As pessoas têm que ser tratadas com dignidade
sempre e todas da mesma forma. A história é a melhor professora que nos fala de
casos em que grandes momentos foram liderados pelos mais fracos, sem que
tivessem de recorrer à força ou à violência, pois esta é a arma dos maiores
inúteis, os mais desprovidos de conhecimento e cultura cívica.
Cristiano
Ronaldo, o melhor jogador do mundo, não foi feliz na sua prestação frente à
Dinamarca, as redes sociais invadiram-se de críticas, mas neste jogo eu jamais
embarcaria, até porque se nós ficamos tristes por não termos visto um resultado
melhor, certamente que Ronaldo, o próprio jogador, sofreu muito mais do que
qualquer um adepto por não ter conseguido alcançar o objetivo pretendido. Mas
não se fez esperar e foi só ter um pouco de paciência, o melhor dos melhores
encarou o jogo com a Holanda com muita garra e o seu brilhantismo esteve lá,
por que os que são realmente bons
também têm momentos maus mas rápido se recuperam.
À
imagem de Cristiano Ronaldo, a sociedade portuguesa tem muita gente com grandes
qualidades. É certo que para a maioria dos portugueses ‘ninguém é santo na sua
terra’, mas está na hora de acreditar mais nas potencialidades dos nossos,
porque se aparecer uma dor, nem que seja no dedo mindinho, quem está lá para
socorrer são os mais próximos.
Quanto
às invejas, o carro melhor do que o vizinho, a casa com jardim topo de gama,
não passam de meras futilidades de gente desocupada. Se as invejas atingem
outros patamares, principalmente em questões culturais e princípios cívicos, só
há uma solução: ler muito e ter um comportamento exemplar, sem atropelar os
amigos só para estar sempre (pensam) numa posição superior, porque as terras
não têm donos, só a propriedade individual, até podem ter melhores ou piores
administradores, mas estes estão lá para servir e não para mandar nas pessoas
e, se pensam que mandam, devem ter cuidado porque a roda tanto anda como
desanda.
Obrigado
Ronaldo pela alegria, obrigado a todos os Ronaldos anónimos pelo exemplo na
sociedade: 11 por todos e todos por 11.
Pedro Miguel Sousa, in Jornal Povo de Fafe (22/06/2012)