sexta-feira, 30 de março de 2012

O triunfo dos Porcos

O romance ‘Animal Farm’ de George Orwell relata a revolução dos animais de uma quinta. Um velho e respeitado porco, apercebendo-se que a sua vida estava a chegar ao fim e sentindo o quanto esta valia, reuniu os animais da quinta e explicou-lhes que a sua condição miserável devem-na à tirania dos homens que os exploram. Os animais resolvem fazer uma revolução e expulsam o dono da quinta e criam os ‘sete mandamentos’. Como nem todos conseguem decorar os sete mandamentos, devido à estupidez e limitações de alguns, estes foram reduzidos à máxima: ‘Quatro pernas bom, duas pernas mau’.

Tudo parecia maravilhoso nesta quinta. Os animais trabalhavam com muito fervor e determinação e as obras iam surgindo até ao dia em que os porcos se tornam corruptos. Nesse momento surge o princípio: ‘todos são iguais, mas uns mais do que outros’. Para demonstrar o sucesso da quinta, os porcos convidam os donos de quintas vizinhas para jantar e, entre elogios e felicitações pelo sucesso, descobre-se que já não se conseguem distinguir na cara os porcos dos homens.
A obra de George Orwell é uma sátira à sociedade, ao totalitarismo, mas não deixa de nos interrogar sobre a verdadeira condição humana. A importância da vida só é posta em questão num momento extremo, a necessidade da união para a melhoria da qualidade de vida e a obrigatoriedade de criar regras para o sucesso coletivo são caminhos traçados em prol de um ideal, mas depois surge a falta de formação e informação, a estupidez e as limitações e tudo se resolve com interpretações que se ajustam à medida e necessidade dos mais hábeis, fazendo com que as desigualdades iniciem e lá se vai todo o idealismo inicial.
Onde será que já vi este ‘filme’?
A história repete-se vezes sem conta. As ideias surgem sempre com a melhor das intenções. As pessoas juntam-se e formam grupos de trabalho, mas logo aparece alguém que quer destacar-se e superiorizar-se em relação aos outros e a prepotência toma conta até dos objetivos previamente estabelecidos, porque o poder corrompe e os interesses pessoais sobrepõem-se aos coletivos e uns aproveitam-se da ingenuidade ou bondade de outros ou simplesmente porque o homem é mesmo um animal muito fraco.
Pedro Miguel Sousa, in Jornal Povo de Fafe (30-03-2012)