sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Democracia participada…

A palavra ‘democracia’ tem a sua origem na junção dos termos gregos ‘demo’ – povo e ‘kratos’ – poder. Esta aparece pela primeira vez em Heródoto, desaparece até ao século XVIII e volta a recuperar a sua importância com a Revolução Francesa. Ainda que a forma de actuação não tenha sido sempre a mesma, uma vez que passou de uma democracia directa a representativa, existia um envolvimento maior dos cidadãos através do regime de rotatividade.



Certamente que a actual situação da Grécia em nada dignifica este período de potência máxima, mas também em nenhum momento do estado actual de Portugal honra o tempo dos descobrimentos. São dois casos que se encostaram demasiado a uma história de heróis que conquistaram terras e se lançaram ao mar apropriando-se de tudo o que lhes aparecia à frente. Será que só foi esta última parte que os governantes compreenderam ao longo de toda a história?

Os casos da actualidade que envolvem altas figuras da política nacional, em Portugal, são o exemplo perfeito para o que definitivamente se deve contrariar: políticos e ex-políticos que usavam o seu posicionamento para as maiores fraudes de sempre. Deve-se anda notar que a política nacional não passa de uma ‘monarquia disfarçada’, basta olhar para as substituições directas nas cadeiras ocupadas actualmente na Assembleia da República. Os tão aplaudidos defensores da democracia não são mais do que os privilegiados de um 25 de Abril faminto de poder. Nos corredores partidários, nas várias linhas, são inúmeros os casos de exigência: ‘eu saio mas vai a minha filha no meu lugar’; ‘candidato-me mais uma vez, mas quero o meu filho na AR’; ‘não quero ir, mas vai a minha irmã em meu lugar’…

Portugal tornou-se o país dos jeitinhos. Onde as famílias poderosas continuam a dominar e os mais pequenos a baterem palmas na expectativa que os primeiros deixem cair umas migalhitas.

As palavras formatadas dos nossos governantes já habituaram as pessoas. Continuará a existir sempre quem se queira submeter a estes escândalos da democracia e ser tratado como um pobre coitado, ainda que pense que é um senhor porque o presidente ou o vereador lhe bateu com a mão nas costas. ‘Infelizes dos pobres, porque deles é o reino dos céus.’

Felizmente, as novas tecnologias já começaram a devolver o poder ao povo através de blogues, sites, hi5, facebook e estas plataformas permitem fazer com que a democracia volte a ser participada. Já qualquer cidadão pode dispor destas ferramentas e apresentar publicamente a sua voz, o que já se provou que é capaz de derrubar regimes e os que contra isto se opõem são por norma os que se encontram em lugares de relevo na política. Se devemos conhecer a história para prepararmos um futuro melhor, há sobretudo dois modelos que importam destacar: a Grécia foi uma potência quando envolveu o maior número de cidadãos nas ‘coisas’ da polis (cidade) e Portugal quando traçou objectivos de crescimento. E se agora a Europa juntasse os dois ingredientes: uma democracia mais participada através da rotatividade e traçasse objectivos a uma só voz?

Pedro Miguel Sousa

in Jornal Povo de Fafe (25-11-2011)