sexta-feira, 29 de abril de 2011

“Limites da des-figuração”

A figura humana é posta à prova desde os primeiros momentos da tomada de consciência pelas criaturas. A descoberta do novo, causada pelo estranhamento, leva a uma procura constante das mais distintas funcionalidades de um membro corporal, um estímulo, uma sensação, um gosto, isto é, a tomada de consciência das variadas potencialidades distribuídas por um só corpo e formando uma só pessoa.
Numa exposição individual, a apresentar amanhã (30 de Abril) na Galeria de São Mamede no Porto, o Escultor Pedro Figueiredo questiona a construção humana ou, talvez, atribui-lhe o verdadeiro significado que tantas vezes nos parece utópico à luz da “des-igualdade” social. Pedro Figueiredo, em diversas peças desta exposição que ilustramos na peça ‘Instante’ reflecte o sentimento bíblico da união numa só carne. Os membros unidos dão origem a dois troncos, representando o Homem e a Mulher, o mesmo Homem e a mesma Mulher, os dois num só corpo, numa só alma, num só espírito. Eis a transformação anunciada, eis o momento tão desejado para a espécie humana.
No catálogo que servirá de elemento auxiliador a esta exposição, Pedro Pita, Professor da Universidade de Coimbra e actual Director Regional da Cultura do Centro, que escreve o texto de apresentação, refere que «Vistas em conjunto – ou melhor: circulando no espaço poético ou espectral definido por qualquer conjunto destas peças – fui ganho pelo sentimento de que estamos perante personagens de uma história enigmática, subterrânea, fantástica, onde não há olhares nem proporções porque é a um outro plano que a figuração desfigurativa de Pedro Figueiredo nos faz aceder.».
Ainda que possamos concordar com estas linhas orientadoras, a nossa imaginação leva-nos para um mesmo mundo fantástico, mas um mundo mais próximo do divino. Um mundo que se conjuga no ‘ser’ e no ‘existir’, a verdadeira existência humana, a procura constante de um equilíbrio num mundo desequilibrado. Se a exposição se intitula “Limites da des-figuração”, diríamos que os limites nada mais são do que o encontro da perfeição conjugados num mesmo tempo e num mesmo espaço, ainda não atingido na sua plenitude, mas que procura apontar como saída única num caminho desfigurado, tortuoso, mas possível de alcançar.
As peças apresentadas nesta exposição são na sua maioria em resina de poliéster, o que é mais usual neste artista plástico, mas são apresentadas também algumas em bronze. Pedro Figueiredo, natural da Guarda, licenciou-se em Escultura na Escola Universitária das Artes de Coimbra, onde viria também a concluir mais tarde o Mestrado em Comunicação Estética. Com participações em diversas exposições individuais e colectivas, destaca-se o Prémio Revelação da XII Bienal de Vila Nova de Cerveira, sendo este ano de 2011 artista convidado. Para além da sua exposição individual “Des-figuração”, que estará presente na Galeria SÃO MAMEDE a partir de amanhã, algumas das suas obras podem ser consultadas nas suas páginas www.pedrofigueiredo.pt ou http://pedrocfigueiredo.blogspot.com.
Pedro Miguel Sousa, in Caderno Cultural do Jornal Povo de Fafe (29-04-2011)