sábado, 22 de janeiro de 2011

O utopismo e o ‘tanguismo’


Não há ninguém mais de esquerda do que eu!
Ao ver o rumo com que este país nos submeteu não posso reagir de ânimo leve. Paulo Portas foi o único que olhou para a precariedade em que se encontram os jovens e os seus empregos medíocres. O estado é o primeiro prevaricador, em questões de pagamento, mas se alguém não cumpre com os prazos na segurança social está tramado!
Porque não tenho pais ricos, porque não nasci em nenhum berço de ouro e fui educado numa família de trabalho, que se tem alguma coisa deve-se apenas ao seu esforço e não a qualquer oportunismo de circunstância, não podia ser mais um parasita da sociedade e deixar-me ficar sem ter a minha própria independência económica e realização profissional.
Nascido e crescido no período da ‘Geração das Gerações’, levei com todos os problemas que os senhores de Lisboa, nobres pensadores do ar condicionado, lá foram criando a este país. Depois de um curso terminado, conheci de perto uma realidade tão péssima como a dos recibos verdes. Não aquela em que permite acumulação de funções e uma delas faz os descontos para a segurança social, mas aquela em que o estado demora teimosamente a pagar aos seus trabalhadores, exige os recibos atempadamente e só paga quando lhe dá jeito.
Depois de conhecer esse período, jamais me motivaria uma nova aventura por iguais situações, principalmente ao ser confrontado com o facto de ter de pagar a segurança social até ao dia 15 de cada mês, mesmo que não tenha recebido o vencimento do mês em causa. Até aconteceu pagar, uma vez, no dia 16 e lá tive de pagar uma multa para não ficar a dever nada ao estado, que, afinal, até era o meu patronato porque era formador num dos seus Centros de Formação Profissional.
Era o meu caso. Mas sabia que não era isolado, porque se fosse não deixava de aparecer uma solução, mas era apenas um em milhares. E, neste momento de crise, liberto desta preocupação, não poderia deixar de mostrar o meu descontentamento a estas medidas austeras de um governo que se quer aproveitar destes trabalhadores, que não conseguem um contrato para um emprego, mas o certo é que precisam deles para ocupar os diversos cargos. Um governo que cria estágios profissionais e permite que se demitam funcionários para que os prevaricadores das entidades tenham gente a trabalhar apenas por 40% do salário.
Se estas são as medidas de esquerda, começo a acreditar que o Paulo Portas, quem se manifestou abertamente contra estas tomadas de posição, preocupa-se bem mais com as questões sociais e do povo do que estes senhores que se dizem de esquerda.
Pedro Miguel Sousa, in Jornal Povo de Fafe (21-01-2011)