Ontem,
enquanto percorria mais uma vez a marginal, numa das caminhadas já habituais
após o jantar, dei por mim a pensar o que pode levar um tipo a pegar num saco
às costas e partir por esse mundo fora. Muitas vezes o porto até nem é muito
longe, mas o mesmo não se pode dizer quando a língua que se ouve não é a nossa.
Um saco. Um
saco grande. Cabia lá tudo o que tinha. Foi a única pessoa que me deu as boas
tardes, ou buenas tardes, mesmo que a noite já se fizesse notar. E lá ficou
naquele banco de jardim depois de eu ter retribuído o seu simpático gesto. E é
assim por aqui todo o ano. Há sempre forasteiros, sozinhos, em grupo, ou até
com o seu fiel amigo. Bem tratado por princípio.
A minha
dúvida mantinha-se: o que pode levar um tipo a meter tudo o que tem num saco e
sair por aí?
Serão,
certamente, muitas as respostas possíveis, mas nenhuma delas será mais forte
quando nos apercebemos que são as regras sociais que falham e atiram milhares
de jovens à procura, tantas vezes, de nada! São as leis que nunca prendem
poderosos. É o compadrio que protege a matilha. É a provocação da necessidade
para levar ao beija mão, pois só assim qualquer pobre diabo ficará eternamente
sob a sua alçada.
E o que faz o
homem para mudar isto? Nada! Pelo contrário, revolta-se contra os que lhes
apresentam as leis… afinal, não sabem ler!
Chego a casa.
A caminhada já terminou. Amanhã a viagem trará novos desafios intelectuais ou
será mais um passeio pela saúde e um belo apreciar da natureza. Tudo o resto
não passa de uma realidade vestida de fantasia.