quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Aceita que dói menos…


Ontem, enquanto percorria mais uma vez a marginal, numa das caminhadas já habituais após o jantar, dei por mim a pensar o que pode levar um tipo a pegar num saco às costas e partir por esse mundo fora. Muitas vezes o porto até nem é muito longe, mas o mesmo não se pode dizer quando a língua que se ouve não é a nossa.
Um saco. Um saco grande. Cabia lá tudo o que tinha. Foi a única pessoa que me deu as boas tardes, ou buenas tardes, mesmo que a noite já se fizesse notar. E lá ficou naquele banco de jardim depois de eu ter retribuído o seu simpático gesto. E é assim por aqui todo o ano. Há sempre forasteiros, sozinhos, em grupo, ou até com o seu fiel amigo. Bem tratado por princípio.
A minha dúvida mantinha-se: o que pode levar um tipo a meter tudo o que tem num saco e sair por aí?
Serão, certamente, muitas as respostas possíveis, mas nenhuma delas será mais forte quando nos apercebemos que são as regras sociais que falham e atiram milhares de jovens à procura, tantas vezes, de nada! São as leis que nunca prendem poderosos. É o compadrio que protege a matilha. É a provocação da necessidade para levar ao beija mão, pois só assim qualquer pobre diabo ficará eternamente sob a sua alçada.
E o que faz o homem para mudar isto? Nada! Pelo contrário, revolta-se contra os que lhes apresentam as leis… afinal, não sabem ler!
Chego a casa. A caminhada já terminou. Amanhã a viagem trará novos desafios intelectuais ou será mais um passeio pela saúde e um belo apreciar da natureza. Tudo o resto não passa de uma realidade vestida de fantasia.