O verão foi longo. Setembro
ainda foi muito animado. Uns dias mais escuros fizeram acalmar o desespero das
chamas com a passagem rápida da chuva. Não custou tanto entrar no trabalho. O
tempo convidava ao resguardo. Depois veio a fruta. A fruta da época. Aquela que
se pode comer sem ir primeiro ao supermercado.
A
vida da aldeia é assim. Há um pouco de tudo. Não tem de passar pela máquina
registadora. Nem tão pouco precisa de uma moeda em troca. Pelo menos no
momento. Depois há outra fruta. Essa também não precisa de recibo. Mas já há
uma moeda em troca… A fruta não é toda igual.
O que
acho mais engraçado é mesmo a procura. Deve ser mesmo boa. Ninguém denuncia
mais a fraca qualidade da fruta. Em tempos, fizeram-se abaixo-assinados só por
causa da aparência. Os filhos eram pequenos e não era de bom-tom ver a fruta
exposta. Mas hoje já não importa mais… cresceram os herdeiros do trono e os
outros que se amanhem.
Como
gosto da aldeia. Só há coisas boas para escrever. Ou pelo menos é o que me dizem
os jornais. Às vezes pergunto se são de parede ou todos de paróquia. O
importante é dizerem que tudo vai bem… e com tanta procura da fruta, está
sempre garantida a sobrevivência do pomar!
Agora, a fruta não fica só à entrada da aldeia. Há mesmo outros tipos de fruta
nas suas entranhas. À descarada como se diz em linguagem corriqueira. Mas
ninguém diz nada. Ninguém viu nada. O importante é que ninguém saiba de nada.
Por isso, também não se escreve nada. Vamos estar caladinhos. E manter os
nossos tachinhos…
Há
fruta na aldeia. Muita fruta.
in Jornal Povo de Fafe
(14-10-2016)