quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Clube de Leitura Teatral


O Espetáculo vai começar! Por favor, desliguem os telemóveis.
Não se ouviu esta frase. Também nenhum telemóvel tocou. O público parece já acostumado. Ou então é tão pobre que até os telemóveis têm medo de tocar para não gastar bateria. Na verdade, nenhum telemóvel tocou. Parecia que não havia mundo lá fora. Os Leitores/Atores ou Atores/Leitores ou simplesmente aqueles que se prontificaram em agarrar no texto e preparar esta primeira sessão das leituras encenadas foram magníficos. Ricardo Correia recorre ao texto de Luíz Pacheco ("Cá em casa a nossa cama é a nossa liberdade imediata. Tem os nomes que quiserem.") e transforma-o em dramaturgia. O público não teve lugar na plateia. O público éramos nós. Espetadores/Atores sentados ali. Mesmo ali naqueles colchões do princípio ao fim. Naquela cama estavam todos. Entre movimentos mais e menos apressados. Encontrões tão normais de quem está numa cama. Todos cabiam naquele espaço tão minúsculo mas ao mesmo tempo tão livre. Ali, mesmo ali, cabiam todos os sonhos do mundo.
Depois do espetáculo, há sempre um momento de partilha e análise. Às vezes precisamos mais de ouvir do que falar. Ontem foi assim para mim. Fiquei a pensar no espetáculo. Na brilhante condução performativa de Ricardo Correia. Dei por mim, ainda no espetáculo, a pensar ‘… nem parece que estão a ler.’
Hoje, depois de alguma reflexão, gostava de salientar duas questões:
1 – A arte muda claramente a forma de ver o mundo;
2 – A Escola tem de abrir as portas ao mundo artístico. Os Professores precisam de ser libertados da burocracia dos papéis e viver mais estes momentos. Um aluno, mesmo o mais distraído, iria gostar muito mais de analisar um texto sentado num colchão, por mais roto que estivesse, do que na sua secretária chata e maçuda.
A Escola precisa ser reinventada. Este Clube de Leitura tem a receita.

TAGV e d’A Escola da Noite
Clube de Leitura Teatral
dirigido por Ricardo Correia e António Augusto Barros
Texto Sessão 1 - Luíz Pacheco: "Cá em casa a nossa cama é a nossa liberdade imediata. Tem os nomes que quiserem."
Fotografias de Cláudia Morais
ENTRADA LIVRE