Mané – Ei!
Tu aí! Sim tu, ó totó… que estás para aí a dizer? Não gostas da tua vida?
Queres levar um tiro nos cornos? Ou não gostas do que dizem os jornais? Podes
sempre limpar-lhe o cú. O problema é que os jornais dizem a merda que os gajos
como tu não gostam de ouvir… porque são desmascarados… são trafulhas… deixa ver
(arranca-lhe o jornal das mãos)
«subida de impostos… fraude fiscal… mata a
amante e suicida-se a seguir… aumento de desemprego… férias de luxo… esbarra
lamborgHini e compra Ferrari…»
Filhos-da-puta! É este o país que temos…
Rute –
Chega! Deixa o homem em paz.
Mané – Ai
é? Queres que o deixe em paz? E logo tu que estavas a dizer que as nossas
famílias é que viviam sem fazer nada.
Rute – E
tu sabes bem que é verdade!
Mané – (aponta-lhe
a arma) Cala-me essa boca. Só dizes merda…
Rute – E
tu só fazes merda. Onde arranjaste essa arma? Já estiveste a fumar…
(Salvador sai sem eles se aperceberem)
Mané – (empurrando-a) Já te disse, caralho.
Cala-te!
Zé – (tira-lhe o jornal) Baixa isso.
Joca – Não
consegues ser normal? Pensas que estás sozinho? Há gente que gosta de ti…
Mané – (aponta a arma para Joca) Agora queres
dar-me tu lições… ó betinha? Mas eu perguntei-te alguma coisa? Achas que me
convences por teres uns olhos bonitos e andares sempre bonitinha?
Zé – (agarra
no Mané para lhe tirar a arma) Chega Mané! Dá cá isso, senão ainda magoas
alguém. Somos todos amigos…
Mané –
Somos o caralho. Estamos todos a lutar pela sobrevivência… ninguém é amigo de
ninguém na hora da morte… todos fogem… todos se borram de medo de ser apanhados
pela bófia… (empurra-o) e chega-te para lá…
SOUSA, Pedro Miguel Teixeira, Back to life, Cena IV (excerto).