Coronéis
e seus Jagunços. Senhoras da sociedade muito religiosas e defensoras extremas
da moral e dos bons costumes. Os Maridos são clientes assíduos do ‘Bataclan’ e
as esposas não passam de objetos ao serviço das necessidades básicas daqueles
que as possuem como uma propriedade: «Suba que vou-lhe usar». O marido tem
direito, a esposa tem dever. O homem tem as suas necessidades e a mulher não
pensa, não sente, não estuda, não trabalha…
A
reposição da novela inspirada na obra de Jorge Amado, “Gabriela, Cravo e
Canela”, está a chegar ao fim e confesso que fui um espetador muito atento. As
palavras daqueles que tiveram a oportunidade de visualizar a primeira versão
mereciam-me uma atenção especial. A descrição de uma sociedade escandalizada
com a apresentação de situações, em nada aceitáveis para gente de bem,
contrastava com a necessidade de ‘querer’ ver mais. Crítica e aplauso?
Simplesmente o retrato de uma sociedade…
Depois
de tantos anos, a “Gabriela” continua a ter espetadores. Continua a fazer
sentido e, principalmente, ainda é um retrato por excelência de tantas e tantas
situações da sociedade, principalmente dos meios mais provincianos. Agora os
coronéis são outros, mas ainda há alguns jagunços. As mulheres têm direitos,
mas também continua a existir as ‘defensoras da moral e bons costumes’ como
antes, com todos os defeitos e mais alguns… daqueles defeitos que só os outros
têm, apenas até ao dia em que os seus são conhecidos. Na Igreja ainda há os que
só pensem em dinheiro, recorrendo à ‘caridade’, porque bem-aventurados são os
pobres… Os bordéis reúnem os mesmos argumentos e na política, às vezes, ainda
aparece o coronel e seus jagunços…
Acabar
com o ‘coronelismo’ era a motivação maior de Mundinho Falcão. O contraponto
entre a sociedade hipócrita, defensora acérrima dos usos e costumes mas com
mais defeitos do que os outros, e a sociedade progressista que pretende abrir
horizontes e proporcionar uma vida mais igual entre os povos. A obra acaba bem.
Tem um final feliz. E na vida real?
Continua
a ser preciso acabar com os coronéis e seus jagunços!
in Jornal Povo de Fafe (18 de Janeiro de 2013)