sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

É preciso acabar com o coronelismo


     Coronéis e seus Jagunços. Senhoras da sociedade muito religiosas e defensoras extremas da moral e dos bons costumes. Os Maridos são clientes assíduos do ‘Bataclan’ e as esposas não passam de objetos ao serviço das necessidades básicas daqueles que as possuem como uma propriedade: «Suba que vou-lhe usar». O marido tem direito, a esposa tem dever. O homem tem as suas necessidades e a mulher não pensa, não sente, não estuda, não trabalha…
     A reposição da novela inspirada na obra de Jorge Amado, “Gabriela, Cravo e Canela”, está a chegar ao fim e confesso que fui um espetador muito atento. As palavras daqueles que tiveram a oportunidade de visualizar a primeira versão mereciam-me uma atenção especial. A descrição de uma sociedade escandalizada com a apresentação de situações, em nada aceitáveis para gente de bem, contrastava com a necessidade de ‘querer’ ver mais. Crítica e aplauso? Simplesmente o retrato de uma sociedade…
     Depois de tantos anos, a “Gabriela” continua a ter espetadores. Continua a fazer sentido e, principalmente, ainda é um retrato por excelência de tantas e tantas situações da sociedade, principalmente dos meios mais provincianos. Agora os coronéis são outros, mas ainda há alguns jagunços. As mulheres têm direitos, mas também continua a existir as ‘defensoras da moral e bons costumes’ como antes, com todos os defeitos e mais alguns… daqueles defeitos que só os outros têm, apenas até ao dia em que os seus são conhecidos. Na Igreja ainda há os que só pensem em dinheiro, recorrendo à ‘caridade’, porque bem-aventurados são os pobres… Os bordéis reúnem os mesmos argumentos e na política, às vezes, ainda aparece o coronel e seus jagunços…
     Acabar com o ‘coronelismo’ era a motivação maior de Mundinho Falcão. O contraponto entre a sociedade hipócrita, defensora acérrima dos usos e costumes mas com mais defeitos do que os outros, e a sociedade progressista que pretende abrir horizontes e proporcionar uma vida mais igual entre os povos. A obra acaba bem. Tem um final feliz. E na vida real?
     Continua a ser preciso acabar com os coronéis e seus jagunços!
               Pedro Miguel Sousa, 
in Jornal Povo de Fafe (18 de Janeiro de 2013)