Ao analisar o percurso de diversos grupos
culturais, recreativos e desportivos, surgiram três elementos que se afiguram
como barreiras ao progresso de qualquer instituição: inveja, vaidade e
oportunismo.
Nenhuma
cidade pode evoluir se os seus habitantes não se prepararem culturalmente.
Embora tenhamos consciência que cabe quase tudo na noção ‘cultura de um povo’,
não se pode aceitar tudo e esperar que as pessoas morram para mudar hábitos,
até porque a cultura vai-se construindo ao longo do tempo pela educação, seja
ela formal ou informal, nos bancos da escola ou meramente através da
transmissão oral de conhecimentos.
A
cidade de Fafe é uma cidade muito rural. Agarrada a bairrismos mais ou menos
agradáveis, mas deixa-se conotar facilmente por uma cidade provinciana que
presta vassalagem a políticas do Estado Novo. Mostrar às pessoas que elas não
são mais nem menos do que ninguém não é tarefa fácil. As pessoas, herdeiras
dessa ditadura salazarista, continuam agarradas à ideia do feudalismo ou do
‘senhor’, onde os que possuem mais terras merecem obediência. O grande problema
é que há muitos que se aproveitam desta ingenuidade sem qualquer escrúpulo. É
triste viver ainda assim em pleno século XXI, não é?
A
igreja católica, uma referência ‘ainda’ na vida das pessoas, devia ter uma
palavra a dizer aos ‘pobres de espírito’. Mas em muitos lados é a própria
igreja que fomenta estas práticas, ao abrir portas aos ‘senhores’ para que eles
comandem os destinos dos povos das terrinhas através do estatuto de comissários
da fábrica da igreja que em muitos casos têm um só objetivo: tirar proveito
pessoal e político perante a comunidade.
Numa
altura em que se aproxima o Natal, num ano em que se celebra o ‘Ano da Fé’, a Igreja
precisa de repensar a sua forma de atuação como educadora de valores. Não serão
as missas bonitas durante uma hora por semana que enchem a vida das pessoas,
mas serão as palavras de incentivo à igualdade entre os semelhantes que
tornarão o respeito mútuo muito mais vincado. A Igreja só sobreviverá se
atualizar a sua atuação e para isso tem de se obrigar a evangelizar o que
indica o catecismo e não as vontades de uns e de outros.
Certamente
que não é apenas esta cidade que precisa de uma renovação, mas é esta a ‘nossa
cidade’. É esta a cidade que teima em não acordar para o progresso de ideias e
rompe com tudo o que seja fútil. É esta a cidade onde ainda há quem se irrita
porque o vizinho tem um carro novo ou também há quem se julgue o melhor só
porque é presidente de uma associação qualquer. Isto hoje é ridículo, não só
porque deveria ser visto como um dever cívico estar à frente de uma
organização, mas também porque é das coisas mais fáceis constituir uma
associação. Até já se pode abrir uma associação na hora!
A
cidade não era tão cinzenta se não fosse a inveja, a vaidade e o oportunismo a
mandar na vida das pessoas.
Pedro Miguel
Sousa, in Jornal Povo de Fafe (02-10-2012)