A
cidade de Fafe começa a ficar habituada a perder. Já não chegava a destruição
do património, agora temos de assistir à perda de recursos que tão importantes
eram em tempos para a distinção de uma vila, uma cidade ou um concelho. Não se
compreende como é que se destrói um edifício por causa de um metro de terreno,
será que os arquitetos ou engenheiros são tão incompetentes que não conseguem
encontrar uma alternativa quando em causa está um edifício com características
únicas e se revela uma marca fundamental na cultura de uma terra? Sinceramente,
não acreditamos, achamos que se trata da falta de sensibilidade cultural dos
líderes políticos, porque se conseguem projetar uma estrada com muros altos,
também sabem projetar um metro ao lado e sem ter de construir suportes para
alargar a estrada.
O
recurso à temática do património não é por acaso, mas porque este último
mandato da Câmara vai ficar marcado pela destruição se não pararem com os seus
planos que ninguém entende. De um momento para o outro, ou esgotaram as ideias
e para mostrar trabalho sentem a necessidade de mexer no que foi construído,
nem que seja só de mudar de um lugar para o outro como tinham a intenção de
fazer com o Monumento à Justiça de Fafe, ou estão dispostos em aceitar tudo o
que lhes impõem mesmo que em causa esteja a perda de recursos que fazem toda a
diferença na afirmação da cidade e, muito mais, na qualidade de vida que todos
merecem.
Fafe
é cada vez mais uma aldeia de Guimarães. Afinal de contas, o artigo causador de
tanta polémica, “Os nossos vizinhos: Fafe”
de Nuno Rocha Vieira, parece ter algum
sentido: Hospital, Centro de Emprego e Tribunal já têm as chefias na grande
cidade Vimaranense ou estão a caminho. Para falar claro, nem é muito isso que
nos incomoda, se a população conseguir ser melhor atendida com esta reestruturação
ainda bem, mas se isto implicar a dificuldade para chegar aos serviços o caso
muda de figura.
O que nos surpreende, no meio
disto tudo, é a forma como o poder político em exercício lida com estas
questões, no início fazem grande escândalo, redobrando-se em conferências de
imprensa para mostrar a sua indignação, veja-se o caso da reestruturação das
freguesias, e depois concordam com tudo o que vem de Lisboa. Obviamente, isto
até se percebe, se não fizerem muitas ondas conseguem orientar melhor as suas
pretensões político-partidárias. Mas será que estas posições de quem lidera uma
comunidade são as ideais? Ou será que deveriam lutar até às últimas consequências
pelos interesses da população?
No grupo “Em
defesa do Hospital de Fafe”, recentemente criado no Facebook por Eugénio
Marinho, advogado e político fafense, este escreve: «Tudo está a ser feito para o Estado se
"livrar" do Hospital de Fafe e entregá-lo à Misericórdia. Devemos
impedir esse negócio que nos privará em
definitivo de termos um hospital público, como sucede desde o 25 de Abril. E o
mais grave é que o negócio está a ser feito com a cumplicidade da autarquia.»
Não podemos avaliar se o melhor para Fafe é o Hospital ser do estado ou
privado, mas defendemos o serviço de saúde como defendemos a educação, ou seja,
saúde e educação pública e para todos.
Pedro Miguel Sousa, in Jornal Povo de Fafe (26-10-2012)