A
Cultura tem merecido um tratamento precário pela classe política. Se eles
conhecessem o poder da cultura, inscreviam-se na primeira Universidade que lhes
aparecesse à frente, o problema é que o país ‘todo’ tem um grande caminho pela
frente para que todos possuam essa coisa chamada “cultura”, principalmente a
tecnocracia. Pessoas incultas, ou sem
conhecimento, podem ser felizes, mas serão muito mais se obtiverem esse mesmo
saber que faz com que não se deixem pisar, ao exigir os seus direitos entre
seus semelhantes.
Costuma-se
‘brincar’ à cultura. As festinhas e os bailaricos, as exposições amontoadas…
quanto mais não seja para conseguir um espacinho no jornal lá da terra e tentar
mostrar que até se fazem umas coisas. Talvez esteja aí a grande questão: uma
aposta fraca não pode cativar uma massa crítica forte. É preciso mais. É
necessário apostar com qualidade. Não se pense que falamos de uma cultura
erudita, do género daquela que infelizmente só está ao alcance das carteiras
mais recheadas, falamos inclusive da cultura popular, daquilo que é
genuinamente nosso, as nossas tradições mais comuns: as vindimas, os magustos,
o Natal e os seus presépios, o Carnaval e as características de cada terra, as
festas religiosas e tantas outras que muitas vezes só quem lá mora é sabedor e
são feitas à medida e interesses dos seus organizadores.
A
cultura não é uma coisa de ricos. Nunca foi. Embora quem tem recursos pode
frequentar com maior facilidade locais onde esta é servida de bandeja: teatros,
cinemas, óperas, museus, galerias… até porque a maior parte das vezes esta fica
em grandes cidades, mas há aquela cultura que não necessita nem de
deslocalização nem mesmo de grandes gastos ou até qualquer gasto, seja na
leitura de um jornal lá no café, seja na participação num evento popular
daqueles que se constroem através da pesquisa e do conhecimento ou simplesmente
daquele baile de verão que é tão nosso.
Dinamizar
a cultura é apostar na procura, no turismo, na identidade. Há cada vez mais
pessoas a procurar as tradições de cada região, não só em questões de animação
mas também na gastronomia, no património… Saber combinar usos e costumes com um
bom prato típico e um vinho da região é a porta aberta para um sucesso já com
provas dadas em muitas terras portuguesas. Às vezes não precisamos de ser
‘inventores’, basta apenas importar ideias bem-sucedidas e ajustá-las à nossa
realidade.
Neste
sentido, o nosso país tem de acordar definitivamente para a aposta na cultura e
não continuar a atirar a cultura para um canto, dando-lhe apenas umas migalhas
para a sua sobrevivência, uma infeliz realidade repetida pelos diferentes
governos. Porque a cultura planeada e estruturada, muitas vezes apenas com o
reavivar de tradições, pode gerar milhões, para isso acontecer só precisa de um
pequeno empurrão, em vez dos 0,4% passar a ser comparticipada com «1% para a
Cultura».
Pedro Miguel
Sousa, in Jornal Povo de Fafe (04/10/2012)