Não se
trata mesmo de bairrismo. Nem tão pouco qualquer tipo de crítica à gestão de
qualquer clube em particular. Trata-se de uma observação muito pessoal, ainda
que já sei partilhada por muitos, sobre as aquisições ou contratações dos
jovens jogadores do campeonato popular ou regional.
Longe
vão os tempos em que o objetivo dos clubes da regional se prendia com a ideia
de dar oportunidade aos jovens da terra onde a associação se encontrava sediada.
Orientar e incentivar os jovens para a prática desportiva fazia parte de um
plano que os dirigentes, ainda que a maior parte das vezes nem nisso pensassem,
procuravam entre aqueles que se propunham treinar dentro das quatro linhas em
exercícios de captação de atletas do futebol. O bairrismo era uma
característica inerente à situação, porque todos se conheciam, mas era saudável
e soberba a ideia de apoiar o clube dos amigos que se cruzavam em diferentes
momentos do dia-a-dia (café, escola, igreja…).
Hoje os
valores estão mais virados para outros interesses, muitas vezes pouco
transparentes. Levar o nome da terra deixou de ser um objetivo principal e
ganhou força o nome individual e, se possível, de um grupo restrito de
‘pseudo-empresários futebolísticos’ que se consideram os melhores porque até
ficam em terceiro ou quarto e, se correr menos mal, até podem chegar à final.
Esta
situação é muito fácil de analisar: se um clube deixa de ter dirigentes da
terra também deixa de centrar as suas motivações na mesma, ainda que haja a
tentativa de alguma aproximação para não parecer muito mal e conseguir uns
apoios lá das juntas ou das câmaras locais.
Os
objetivos de um clube do popular ou da regional não são os mesmos dos clubes a
disputar o campeonato nacional. Em primeiro estão os jogadores da terra, depois
das proximidades e só depois, se já não for possível, é que se deveria recorrer
aos mais distantes. Isto permite rentabilizar recursos, dinamizar da mesma
forma o clube e contribuir para a prática desportiva dos jovens,
incentivando-os a uma vida saudável.
É claro
que há interesses que nos escapam (ou não) em recorrer a jogadores que habitam
a centenas de quilómetros, mas isso é outra guerra e isto é apenas uma opinião.
Bairrista? Nem por isso, apenas defensor do desporto de proximidade como
educação física.
Pedro Miguel Sousa, in
Jornal Povo de Fafe (07-09-2012)