sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Quando os clubes não contratam jogadores da terra…


            Não se trata mesmo de bairrismo. Nem tão pouco qualquer tipo de crítica à gestão de qualquer clube em particular. Trata-se de uma observação muito pessoal, ainda que já sei partilhada por muitos, sobre as aquisições ou contratações dos jovens jogadores do campeonato popular ou regional.
            Longe vão os tempos em que o objetivo dos clubes da regional se prendia com a ideia de dar oportunidade aos jovens da terra onde a associação se encontrava sediada. Orientar e incentivar os jovens para a prática desportiva fazia parte de um plano que os dirigentes, ainda que a maior parte das vezes nem nisso pensassem, procuravam entre aqueles que se propunham treinar dentro das quatro linhas em exercícios de captação de atletas do futebol. O bairrismo era uma característica inerente à situação, porque todos se conheciam, mas era saudável e soberba a ideia de apoiar o clube dos amigos que se cruzavam em diferentes momentos do dia-a-dia (café, escola, igreja…).
            Hoje os valores estão mais virados para outros interesses, muitas vezes pouco transparentes. Levar o nome da terra deixou de ser um objetivo principal e ganhou força o nome individual e, se possível, de um grupo restrito de ‘pseudo-empresários futebolísticos’ que se consideram os melhores porque até ficam em terceiro ou quarto e, se correr menos mal, até podem chegar à final.
            Esta situação é muito fácil de analisar: se um clube deixa de ter dirigentes da terra também deixa de centrar as suas motivações na mesma, ainda que haja a tentativa de alguma aproximação para não parecer muito mal e conseguir uns apoios lá das juntas ou das câmaras locais.
            Os objetivos de um clube do popular ou da regional não são os mesmos dos clubes a disputar o campeonato nacional. Em primeiro estão os jogadores da terra, depois das proximidades e só depois, se já não for possível, é que se deveria recorrer aos mais distantes. Isto permite rentabilizar recursos, dinamizar da mesma forma o clube e contribuir para a prática desportiva dos jovens, incentivando-os a uma vida saudável.
            É claro que há interesses que nos escapam (ou não) em recorrer a jogadores que habitam a centenas de quilómetros, mas isso é outra guerra e isto é apenas uma opinião. Bairrista? Nem por isso, apenas defensor do desporto de proximidade como educação física.
Pedro Miguel Sousa, in Jornal Povo de Fafe (07-09-2012)