Não
basta andar de cravo ao peito no dia 25 de Abril de cada ano. A democracia foi
consequência de vários anos de sufoco e a liberdade de expressão é contemplada
em documento próprio, devidamente aprovado e assinado pelas altas patentes do
Estado Português.
Recentemente,
o artigo “Os nossos vizinhos: Fafe” de Nuno Rocha Vieira, vimaranense, criou
uma enorme onda de contestação, em certos casos, a rossar a malcriadez e
brejeirice. Se o objetivo do articulista fosse atribuir estatuto de ‘gente
rude’, poder-se-ia afirmar que tinha conseguido, basta ver alguns comentários.
Contudo, independentemente do que se possa pensar e dizer, não vi o artigo como
uma provocação cerrada, mas como um alerta, visto que permite perceber a imagem
que têm da minha cidade.
Fafe
é grande em Fafe. Seria a conclusão mais rápida que se podia tirar de toda esta
confusão de palavras. Por muito que se brinque aos rallies ou ao ciclismo, isto
só acontece uma vez no ano. Será que é assim tão difícil perceber que só o
facto de passear pelas ruas de Guimarães é agradável? Sabem porquê? É muito
simples: eles preservam o património e dão-lhe vida! Fafe, bem pelo contrário,
faz muito alarido em torno das construções dos brasileiros, fruto do trabalho
de um estudioso persistente, Miguel Monteiro, mas na primeira oportunidade autoriza
que se derrube um edifício para dar lugar a um mamarracho de vários andares,
basta aparecer uma construtora que considere que dava um bom prédio naquele
sítio.
Isto
é cultura? Com tanto espaço para crescer, há mesmo necessidade de destruir a
identidade? Não seria muito mais inteligente recuperar os edifícios para
espaços comerciais ou escritórios?
No
meio de tudo isto, o texto que mais me cativou não foi o do articulista
vimaranense mas o de Leonor Castro. A classe com que construiu o seu texto foi
muito perspicaz, inteligente, direta. Não disse apenas que o vimaranense não
conhece bem Fafe, mas demonstrou através de excelentes exemplos que se
conhecesse teria muitas mais observações a fazer.
Agora,
sem ressentimentos e bairrismos, com a maior das naturalidades, imaginem se “os
nossos vizinhos” quando vêm a banhos à barragem, como diz o articulista,
parassem num dos nossos espaços comerciais para encher a lancheira com umas
‘cervejolas’, um queijinho, fiambre… e o pão caseiro de Fafe? Imaginem também
se eles tivessem a hipótese de parar em Fafe para provar a famosa vitela ou, os
mais novos principalmente, se imaginassem o quão é saboroso comer o cachorro ou
a francesinha no Jorge junto ao Estádio do Fafe? Certamente, não diriam mais
que Fafe só tem acessos para a barragem… mas para isso a política precisa de
mudar. Nós conhecemos, mais ao menos, o que temos, agora o que realmente é
preciso é saber aproveitar recursos naturais e patrimoniais e dar-lhes vida
(Animação Cultural e Artística).
Mas
isso não dá trabalho? Dá! Importa é saber se queremos abrir as portas a outros
concelhos ou ficar estupidamente sozinhos a armar-nos em ‘fortes, feios e
maus’.
Pedro Miguel
Sousa, in Jornal Povo de Fafe (22/09/2012)