sexta-feira, 1 de junho de 2012

A política é a arte do possível, mas só é arte quando há criatividade!


            A definição de arte leva sempre aos mais ousados diálogos intelectuais. O recurso a um manual de Teoria da Arte confronta o leitor nas mais distintas interpretações, mas uma das mais plausíveis aparece-nos nas palavras do Artista Plástico e Performer Armando Azevedo quando afirma «A Arte é comunicação estética». Esta afirmação é muito mais valiosa do que se pode observar no imediato, na verdade Armando Azevedo começa por afirmar a arte enquanto comunicação, nos distintos sentidos e fases da comunicação – apelativa, informativa, conativa…, e a estética – em termos muito genéricos: o despertar do sentimento do belo.
            Na afirmação “a política é a arte do possível”, uma das expressões mais aprazíveis aos ‘políticos de profissão’, o termo ‘arte’ tem o sentido distante do abordado em cima, aqui é ‘a arte como ofício’, a arte com a finalidade de fazer algo. Aparentemente, esta é uma ótima escapatória para a ‘arte de não fazer’. Ou seja, ao afirmar que ‘a política é a arte do possível’, o político sente-se desculpabilizado por aquilo que devia ter feito e não fez. Será para isto que elegemos os nossos representantes?


            Nunca fui muito apologista da teoria: estou sempre certo e raramente me engano. Também não acredito na superioridade humana. Acredito na capacidade de adaptação a novas realidades e no espírito aberto, porque é esse que nos permite ver que a razão tanto pode estar do lado do velho como da criança. É certo que há pessoas mais informadas do que outras, mas também é evidente que não é o que fala mais e mais alto que tem razão.
            Reportando-nos novamente à política como arte, verificamos que há políticos muito fracos. Muitas vezes não fazem mais do que cumprir o que já vinha planeado há anos, apenas tomam essas obras como suas. Isto levanta o problema do ovo e da galinha ou na atribuição da construção de uma casa, quem é o mais importante: o arquiteto, o engenheiro ou o construtor? Verdadeiramente isso pouco importa, todos são importantes, mas o que interessa é que as pessoas que nela vão habitar tenham qualidade. Na política passa-se a mesma coisa, não importa quem mais quem teve a ideia ou quem fez, mas importa tudo se as populações ficam bem servidas.
            No meio disto tudo, o que é mais lamentável não é apoderar-se de uma obra só porque se termina na sua altura, o mais grave é não acrescentar novas ideias, novos projetos, porque um dia vão chegar outros e não vão poder dar seguimento ao que não existe.

Pedro Miguel Sousa, in Jornal Povo de Fafe (01-05-2012)