O problema não são os peditórios de
hoje, mas as facadas nas costas do passado!
Há duas semanas atrás escrevia o
artigo «Durante 7
anos nem uma palavra de louvor, mas agora precisam de todos…» e, como já era de
esperar, a interpretação de conveniência centrou-se em poucas palavras «… um peditório, mais um de tantos
nesta terra». A grande questão deste artigo nunca foi o peditório, pois cada
uma faz o que realmente acha melhor e as pessoas visadas ou dão ou não, mas sim
um elogio rasgado agora a uma junta que fora tão mal tratada na altura pelos
mesmos que hoje ‘parecem’ precisar de os elogiar.
É melhor tarde do que
nunca, reconhecer o brilhante trabalho dos outros. Se observarmos com atenção o
que foi feito e compararmos com o que fazem os que têm as mesmas cores e se
autoproclamaram ‘amigos da câmara’, não será difícil perceber que a Freguesia
de Regadas perdeu mais do que ganhou, ora vejamos: Os transportes antes
gratuitos para as associações, agora são pagos; Oficina de expressão musical,
agora não existe; Internet a um euro, agora desligada; Documentos gratuitos,
agora todos os documentos que necessitem de carimbo e assinatura são pagos; Não
se pagava também para preencher papéis do IRS… Foram conseguidos vários
projetos de financiamento para vias de comunicação, agora nem um projeto fora
candidatado; Existiu formação de adultos, agora nem se fala nisso…
Na verdade, a Freguesia de
Regadas retrocedeu no tempo. No campo da formação e da cultura está
completamente deixada ao abandono. O Club Alfa, por exemplo, mostrou interesse
em dinamizar serviços de formação e artesanato na Escola Primária de Cortinhas
e até isso fora descartado, porque as salas ficam melhor fechadas e servem para
ensaios uma vez por semana. Esta junta não tem ideias próprias, nem vontade de
ver outras pessoas a trabalhar em prol da cultura e do desenvolvimento da
freguesia. No que diz respeito às infra estruturas, a coisa fica ainda mais
grave. As bandeiras em fazer tudo o que os outros não conseguiram, porque se
revoltavam contra a câmara, afinal não foram bem erguidas. Já se passaram dois
anos e meio e só agora é que se está a dar os primeiros passos numa estrada
principal da freguesia. E as outras?
Como se poderá observar, apenas
com alguns exemplos, não faltarão razões para elogiar o trabalho sério de uma
junta que tinha a freguesia como prioridade e perdeu por confiar naqueles que
‘andavam por perto’. Mas o que importa agora é ver a terra evoluir, seja com
quem for, o que não se poderá é deixar perpetuar a política do pedinte que já
vem sendo um recurso que incomoda demais as pessoas e principalmente em tempos
de alguma aflição económica. As pessoas que integram as direções têm de ser
mais criativas e ter a coragem de acreditar nos próprios projetos. O que são
400 000 euros para uma entidade? Se compararmos com o empréstimo que uma só
família da classe média baixa faz para a construção de uma habitação,
verificamos que a média anda nos 100 000, logo o valor necessário é o
equivalente ao empréstimo de 4 famílias. É assim tanto? Será que uma associação
não pode fazer um empréstimo desse valor? Seja como for, um lar é uma
instituição que vai gerar lucros. Os utentes vão ter de pagar para frequentar
os seus serviços, logo não há a necessidade de pedir pelas portas quando a
empresa vai faturar. O lar é tão privado como qualquer outra empresa, por isso,
se quisermos abrir uma fábrica de meias também vamos fazer um peditório?
A Fundação Beatriz Santos,
em Coimbra, construiu a Domus Vitae - um
centro de cuidados continuados com piscina olímpica e berçário. A ARCA (Associação
Recreativa de Coimbra Artística) é proprietária da Escola Universitária das
Artes de Coimbra e da Escola de Artes de Coimbra. A ACPP (Associação de
Cozinheiros Profissionais de Portugal) adquiriu e reconstruiu um edifício na
zona da Lapa em Lisboa por alguns milhares de euros. Ao olhar para estas
entidades, em nenhum dos momentos se encontra ‘um peditório’. Todas estas
entidades têm várias coisas em comum, das quais destacamos: gestores de qualidade
e projetos aliciantes. Todas elas recorreram ao crédito bancário e estão a
pagar, mas também todas elas têm atividade que justifique esse investimento.
Quando se pode pagar sem recorrer a
empréstimos é muito mais agradável, mas tentar fazer bonito com o dinheiro dos
outros não é merecedor de aplauso. Há ainda outras formas de conseguir
financiamento sem ser o crédito bancário, por exemplo o regime de cooperação ou
de acionistas. No entanto, e para que não haja dúvidas, cada pessoa faz o que
tem a fazer e cada um concorda ou não. Assim como quem gosta de dar e de se
mostrar deve continuar a fazê-lo. Não queremos ferir suscetibilidades. Contudo,
importa referir novamente que os utentes dos lares têm sempre de pagar, por
isso este também não será mais do que uma empresa prestadora de serviços.