sábado, 14 de janeiro de 2012

Os idosos não são objectos!

Numa simples conversa informal, onde se discutiam os prós e contras da vida dos idosos em lares, soubemos que, durante o estágio de formandos em geriatria, alguns idosos tapavam a cabeça com as mãos quando estes abriam simplesmente a porta dos seus quartos. As conclusões não podem ser mais evidentes: há lares que não tem gente capaz para ocupar os cargos necessários para lidar com PESSOAS e diretores dimitidos das suas funções; existem famílias que depositam os seus idosos num local e não querem saber se os tratam, pelo menos, com dignidade.


A sociedade portuguesa está envelhecida. Os cursos de Assistente Social, Educação Social e Geriatria multiplicaram-se nos últimos anos para fazer face às necessidades cada vez maiores da população e, em vez de se conhecerem exemplos de locais de enorme qualidade, continuam a zoar os maus tratos a pessoas. Será que são as pessoas cruéis ou será que esses lugares estão ocupados por quem não tem educação específica e muito menos sensibilidade humana?
O associativismo parece ter despertado para esta realidade e a solicitação de valências sociais disparou. Em alguns casos, talvez muitos, a realidade é merecedora de ver essas infraestruturas construídas e ao serviço da população, mas noutros casos apenas existem candidaturas para rivalizar com outras associações ou para continuar a manter os pequenos poderes, uma vez que isso permite obter uns empregos que podem ser distribuídos por aqueles, nem todos, que mais bajularem os seus dirigentes.
Nas atribuições das valências, compreendendo melhor as necessidades das populações, parece importante desenvolver algumas investigações preliminares para depois decidir quem são as entidades que melhor se perfilam para assumir este tão nobre compromisso social. Ainda mais importante será seleccionar as pessoas para trabalharem com outras pessoas, pois estas têm de oferecer uma grande estabilidade emocional para poderem estar ao serviço dos outros. Ser educador ou técnico social ou de geriatria merece alguém com vocação, porque se um cozinheiro, por exemplo, não gosta de cortar batatas pode reclamar porque a batata não se ofende, o mesmo com um construtor que se chateia com os blocos ou o pintor com a tinta, mas já não pode ser o mesmo quando temos pessoas sob a nossa responsabilidade porque basta uma palavra descontextualizada para ferir.
Nunca é demais lembrar!
Pedro Miguel Sousa, in Jornal Povo de Fafe (13-01-2012)