sexta-feira, 13 de maio de 2011

A queima das fitas espelha o país


Num país em crise com eleições à porta, não podia faltar a sátira política na Queima das Fitas de Coimbra. Apesar de um momento de grande aflição para as famílias portuguesas, Coimbra continua a receber milhares de forasteiros que ano após ano se deslocam para ver passar mais um cortejo, que envolve todos os presentes, criando um ambiente de cumplicidade quer nos estudantes quer nas famílias ou simplesmente espectadores.
Apesar de todos os excessos cometidos, alguns até perigosos, seleccionamos este tema para tentar construir algumas confrontações com a vida no seu dia-a-dia, sendo o local escolhido Coimbra, não só porque é o que temos maior conhecimento, mas também porque o nosso jornal fora credenciado para acompanhar as suas festividades. ‘Deolinda, Editors, Marcelo D2, Quim Barreiros, David Fonseca, Diabo na Cruz, Yolanda, The Gift, James’ foram alguns dos espectáculos que passaram no palco principal do Queimódromo no Parque da Canção. Embora nem todos sejam de nacionalidade portuguesa, o certo é que este ano o cartaz da Queima das Fitas em Coimbra mereceu uma atenção especial para as bandas de língua oficial portuguesa, o que pode ser mais uma aposta certeira na projecção que isto pode ter no panorama nacional, uma vez que está a acompanhar a formação de um novo público, mas também no panorama internacional, visto que a academia acolhe centenas de estudantes de outras partes do mundo.
Se este país está a atravessar um momento complicado, não se pode baixar os braços mas deve-se apostar numa internacionalização do próprio país, que passa por uma reestruturação na forma de ser e de estar, podendo, deste modo, conseguir captar mais turistas que procuram, num local tão pequeno, um conjunto de ofertas tão variado e de qualidade. Talvez, pensamos nós, seria muito bom que todas as autarquias deste país pensassem numa aposta concreta no que têm de melhor, antes que alguém pergunte – não se trata apenas de queima das fitas, mas de tudo aquilo que possa representar a qualidade de uma determinada região e se torne uma marca localizada. Para isso, os detentores do poder têm de ter duas coisas: conhecimento e humildade. Conhecimento que as coisas existem e com capacidades reconhecidas, humildade para ir buscar os melhores e não os que trazem mais votos políticos, até porque no geral todos sabemos que em questões de cultura e arte, não são os que levam autocarros, porque são muitos, aqueles que melhor capacidade artística apresentam.
Para sermos mais claros, há mesmo muito a fazer nas áreas da cultura, das artes e do turismo para promover qualquer concelho, e já nem falamos na indústria, mas nunca se conseguirá obter um mérito reconhecido enquanto se fechar dentro de quatro paredes. Enquanto isso não acontece, vai-nos valendo quem já despertou e saiu do conforto do ar condicionado para oferecer os melhores momentos.
Retomando o assunto inicial e o flagelo das famílias portuguesas, é muito preocupante o que já está a acontecer com o abandono daqueles que não conseguem pagar a sua permanência no ensino superior. O estado recolhe os nossos impostos, disso não nos livra, por isso tem de o saber devolver àqueles que por mérito entram nas Universidades ou Politécnicos deste país, porque se não o fizerem estarão a contribuir para uma sociedade em que só os filhos dos senhores fulaninhos é que podem estudar. Isto era o que acontecia no tempo do fascismo, ‘filhos de pobres não estudavam e muitos dos filhos dos ricos eram levados ao colo’. Esperamos que seja apenas uma passagem infeliz dos nossos (des)governantes e que as festas estudantis continuem a ser a alegria de que Portugal tanto precisa.
Pedro Miguel Sousa, in Jornal Povo de Fafe (13-05-2011)