sábado, 13 de novembro de 2010

«Sem a loucura que é o homem...»

«Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?»
Fernando Pessoa, ‘D.Sebastião, Rei de Portugal’
No início desta semana, resolvi escrever um pequeno texto no meu blog intitulado ‘Vais continuar a puxar carroças?’, e fui acompanhando a sua evolução. Nesse mesmo dia, os visitantes aumentaram, representando talvez o maior número de visitas num dia só. Daqui, ainda que possa ser forçada, penso que devemos tirar algumas conclusões, principalmente quem tem funções administrativas em Portugal.
O texto dizia o seguinte: «A maior parte das pessoas lamenta a situação em que se encontra o país, outros há que lamentam o rumo que segue o concelho ou mesmo a freguesia. Mas já repararam mesmo o que está a acontecer na sociedade?
É mesmo muito simples: Estamos num país muito pouco letrado. Metade das pessoas letradas não percebem como funcionam as instituições, metade dessas sujeitam-se, a outra metade manda. Ou seja, ou estudas e começas a perceber e a exigir os teus direitos (sabendo que os políticos foram eleitos para te servir e não para mandar em ti) ou vais continuar a puxar carroças!».
Quando nos debruçamos no marasmo em que se encontra o país, que brinca aos orçamentos, dá-nos a sensação que Portugal já não é um país mas uma grande ‘associação recreativa’ que tem de cumprir os estatutos e fazer reuniões para aprovar um orçamento para ficar em acta, depois se se cumprem ou não as actividades são contas de outro rosário.
Só devemos mesmo estar a brincar! Onde está o espírito empreendedor que tanto apregoamos do tempo dos descobrimentos? Onde estão as vozes que se auto-intitulam defensores da democracia? Será que estão todos preocupados com os cortes na função pública de que fazem parte? É bom que estejam, porque isso vai mesmo acontecer, mas já repararam que sempre tiveram melhores regalias do que o comum dos mortais? Agora precisam de todos para a luta, mas por que nunca se juntaram à classe operária e pediram para eles também um bom serviço de saúde, por exemplo?
Na verdade, quando as pessoas se tornam egoístas, pensando apenas nas suas bolsas e utilizam o seu posto para se destacar no ‘seu bairro’, esquecem-se que «o mundo é uma roda, tanto anda como desanda».
Não se pense com isto que considero que se deva cortar em salários da função pública, mas que se saiba que defendo publicamente a melhor qualidade de vida para todos, não só para os ‘boys’ partidários, que não são mais do que sanguessugas dos nossos impostos. Se assim não fosse, as juntas de freguesia e as câmaras lutavam pelos seus habitantes, para que tivessem boas escolas, centros de saúde, estradas transitáveis, actividades culturais, desportivas… promoviam encontros com possíveis investidores que trouxessem emprego.
O que realmente falta a este país, não é mais do que Fernando Pessoa referiu há muito tempo ‘a loucura ou o sonho’. Porque sem o sonho ou loucura, o que é o homem mais do que o animal. Se não há ambições na vida, se apenas temos políticos que foram eleitos para gerir o dinheiro dos nossos impostos, então não estão lá a fazer nada. É preciso usar a criatividade, se não a têm… começa por ser lamentável, mas podem sempre recorrer a empresas criativas que são especializadas na análise destes processos e conseguem perceber se um negócio tem ou não potencial.
Enquanto não o fizerem, temos de admitir que são uns maus funcionários!
Pedro Miguel Sousa
in Jornal Povo de Fafe (12-11-2010)