sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Nem todos eternizam os ‘tachos’…

«Muda-se o ser, muda-se a confiança;» escreveu Camões num dos seus muitos poemas. Esta, a mudança, mereceu uma atenção particular, o mundo precisa constantemente de mudança e, se assim não acontece, surgem necessidades devido a essa ausência prolongada de mudança.
Ao contrário daqueles que teimam em manter os seus tachinhos, mesmo que mude tudo à sua volta, Moita Flores, em declarações ao Jornal I, referia que «em 2013 "o trabalho estará concluído", por isso, "será a hora de dar lugar a outros"». A possibilidade de uma nova candidatura, para este homem, prende-se com a dimensão do mesmo, ou seja, se o projecto for aliciante avançará.
Esta atitude merece algumas considerações, principalmente quando este autarca começou por dizer que ficava somente ‘dois mandatos’ e que não via a política «… como uma profissão, como uma coisa sedentária. Estou na política com uma missão, um projecto, estou na política a prestar serviço público, e quando termino o que fui fazer devo sair e dar lugar a outros. É assim que eu penso, e é assim que eu acho que deveria ser com toda a gente». Em primeiro lugar, podemos ver uma pessoa que traçou um projecto para dois mandatos e, em segundo lugar, vê a política como um dever de serviço público. Em tempo de descrédito na classe política, estas palavras, após verificado pelos actos, parecem ser uma lufada de ar fresco. É certo que Moita Flores põe a hipótese de novos e mais altos voos, mas também é evidente que a sua missão finda, nada o impede de sonhar e lutar por aquilo que acredita.
Quantos, autarcas ou simples elementos de associações e mesmo comissões fabriqueiras, é que traçam objectivos e deixam os lugares para outros quando estes estão cumpridos? Muito poucos, responderemos todos sem necessitar de pensar muito. E, as razões também se conhecem, umas são pela necessidade de se mostrarem, outras para tirarem dividendos para eles, famílias ou amigos… ou sempre para os mesmos como acontece nas terrinhas! É claro que há quem diga que não sai porque a associação não resistia ou porque o senhor presidente não deixa, mas esses que vão atirar areia para os olhos dos outros, porque todos sabemos que ‘todos são precisos e ninguém faz falta ao mesmo tempo’.
Não é por morrer uma andorinha que acaba a Primavera e também nunca acabou nenhuma associação porque saiu uma pessoa, porque se isso aparentemente aconteceu é porque não era uma associação, mas uma farsa dominada por uma só pessoa.
Era muito importante que todos fossem obrigados a ter objectivos, não que essa obrigação fosse imposta, mas se todos trabalhassem por objectivos, logo veriam que é muito mais aliciante traçar objectivos e, uma vez concluídos, partir para outras aventuras, que, muito sinceramente, fazem com que a auto-estima seja bem alta e que tudo ou quase tudo é possível com trabalho e dedicação.
Pedro Miguel Sousa
in Jornal Povo de Fafe (19-11-2010)