sexta-feira, 9 de julho de 2010

Isto é sério demais para se brincar!

Na semana passada, uma reportagem sobre o interior do país mostrava um conjunto de agricultores e respectivas famílias que ainda vivem sem electricidade. A minha revolta instalou-se de imediato. Não fosse eu um assumido defensor da dita democracia e dos direitos iguais que lhe estão relacionados.
Se há lucros altíssimos, salários muito elevados para os administradores e acrescidos de prémios que davam para sustentar várias famílias de classe média, ainda que em nada me incomode se ganham porque conseguem fazer com que a empresa tenha excelentes resultados, só discordo porque poderiam baixar ao consumo, ainda que não represente uma baixa na realidade, uma vez que poderia levar a gastos menos controlados, mas, independentemente disto, não se poderia levar luz onde ainda hoje, século XXI, não existe?
Admite-se que existam famílias a viver sem luz nas suas casas? Pessoas que pagam impostos? Afinal, onde estão os defensores do social? Será que sabem o que é realmente o socialismo?
Certamente que já todos nos apercebemos que o mundo está entregue à lei da sobrevivência. Todos os políticos se definem como defensores das questões sociais, uns mais numas matérias e outros noutras, mas o certo é que andamos anos a fio a assistir a manobras de diversão que em nada trazem benefícios à população em geral.
Portugal é dos países mais pobres da União Europeia. O Estado está com cortes nos salários e aumento nas taxas. As autarquias lá vão jogando com os pequenos poderes, em dar mais um telhadito aqui, um poste de electricidade ali, um muro mais ali e, muito astutamente, as obras do compadrio vão segurando os tachinhos. Mas não devemos criticar apenas os políticos, porque se não fazem nada e ganham sempre significa que as pessoas estão contentes. Por exemplo, se uma estrada está danificada há anos ou se não aumentam as valências e as populações continuam a votar neles, significa que estão contentes, não é? Para quê mudar de atitude?
Se Portugal está nesta situação quer dizer que muita gente se deixou cair no marasmo e, por uma ou outra razão, não muda de posição. Sabemos que há chantagem em certos casos para ganharem eleições, como aqueles que, feitos com um grupo de apoio, ameaçavam os idosos que não lhes levavam de comer ou arrumavam a casa se não votassem no partido deles ou os que despedem funcionárias se não fizerem todas as vontades patronais, mesmo as que estão fora do contrato e sejam um atentado à moral, ou ainda os que falsificam assinaturas de cheques, porque a outra pessoa que teria de assinar não concordava com determinada despesa, e também aqueles que deixam saldo positivo e nunca mais se sabe dos dinheiros ou apresentam umas contas feitas por eles e dizem que não estão certas, porque há dívidas a abater e não conseguem fazer obras melhores devido à falta de ideias… enfim, não faltam motivos que darão para uma edição a publicar sobre estratégias para ganhar eleições num local onde ‘o diz que disse’ é válido e afinal quem diz que na política não vale tudo, só o diz porque alguém fez o trabalho sujo por eles.
Mas tudo bem, quem ganhou deve governar e mostrar o que vale, para nós basta não concordar e desviar dos praticantes destas atitudes. Como diz o ditado: «O mundo é uma roda, tanto anda como desanda».
Pedro Miguel Sousa
in Jornal Povo de Fafe (09-07-2010)