sexta-feira, 2 de julho de 2010

«O que adianta ter uma casa bonita se não tem conforto?»

No passado fim-de-semana, ouvi uma pessoa falar no termino de aulas de canto, dança e música e dizia esta brilhante frase: «O que adianta ter uma casa bonita se não tem conforto». Na verdade, apesar de sempre me revoltar com a falta de visão de alguns agentes que acabam com a formação porque querem o dinheiro para fazer mais ‘um chafariz’, isso é que dá nas vistas, o certo é que esta frase me fez repensar na forma de actuação dos responsáveis culturais e verificar que se pode reverter a situação com eficácia, haja apenas vontade.
Na parte de investigação seguida de registo e publicação sobre Fafe, parece estar no bom caminho, ainda que esta necessite de embarcar novos investigadores para este barco, o que pode e deve ser feito sob a orientação da experiência e reconhecimento e, nesta parte, Artur Coimbra tem conseguido um bom trabalho. Contudo, reforçando a necessidade de aumentar os investigadores, remeto para um recente post no Blog Montelongo (Pelos lugares da alma) que publicita o «Documentário elaborado para a disciplina Área de Projecto por Sofia Rodrigues, Rita Marinho, Cidália Cunha, Joana Gonçalves e Patrícia Silva do 12º Ano, Turma M, da Escola Secundária de Fafe» e aborda algumas lendas do concelho. Não poderia deixar de comentar a qualidade do trabalho, mas também senti que deveria prestar um serviço à comunidade, ou à sua identidade, e sugerir que o mesmo fosse apresentado aos agentes culturais para que em conjunto se desenvolvesse uma maior investigação, por todo o concelho, e se publicasse um trabalho final com registos que serão úteis para vários sectores que se queiram ver desenvolvidos, sejam na área do turismo, cultura e até PDM, porque significará que determinados sítios não devem ser alterados por causa do seu peso cultural/tradicional.
No entanto há questões culturais que faltam perceber aos agentes da cultura em Fafe, se ganharam já reconhecimento individual pelos seus trabalhos, o mesmo não se poderá dizer no colectivo, ou seja, Fafe tem livros editados, Fafe tem programação no Teatro Cinema, mas não tem programadores no concelho. Fafe existe no centro e as aldeias ficam fora do alcance das intervenções culturais e artísticas, muitas vezes por culpa delas, na débil capacidade dos seus gestores, mas o que nos parece mais eficaz será uma divisão por freguesias sob a gestão de um programador, que por sua vez deve estar em sintonia com a secção de cultura da autarquia. Salvaguarde-se o facto de este ‘Programador’ ter capacidades curriculares para desempenhar as funções, porque se não for um agente com formação na área, então deixemos estar quem está, ou seja ninguém, porque assim não se gastam salários indevidamente.
Ainda que em tempos já tenha feito esta observação, parece-me que volta a fazer sentido relembrar que a cultura pode ganhar se se apostar na educação para ela, isto é, se não se educarem as pessoas para a cultura elas nunca saberão se vale a pena ou não. E, conforme os exemplos que vemos no concelho, enquanto tivermos presidentes de junta que se preocupam mais em fazer obras de fachada (quando as fazem) em vez de lutar para que as pessoas possam ter qualidade e aumentar a sua formação, o que passava por aulas de música, teatro, dança, pintura… assim como no desporto a natação, atletismo, ciclismo… significa que seremos um concelho sempre pobre culturalmente.
«O que adianta ter uma casa bonita se não tem conforto?»
Pedro Miguel Sousa
in Jornal Povo de Fafe (02-07-2010)