terça-feira, 30 de julho de 2019

Crianças descartáveis?


“São devolvidas quando começam a crescer e a dar problemas comportamentais, próprios da idade de quem está na adolescência”

Acabo de ler a notícia Foram devolvidas 53 crianças adotadas nos últimos três anos”, no Observador, e não consigo ficar indiferente. Mas será que estamos num tempo em que tudo o que foge ao nosso controlo é para descartar?

Já ouvia no tempo em que frequentei o seminário que ‘era fácil ser seminarista, mas padre seria diferente’ e o mesmo para a questão do namoro e do casamento. Percebo hoje que não se tratava apenas da questão da ‘facilidade’, mas sim da responsabilidade que está inerente a cada uma das fases. Se o namoro é uma preparação (ou estudo) para o casamento, logo por si implica que se nesse estudo a pessoa se apercebe que não será a melhor opção, pode sempre terminar e seguir o seu caminho sem qualquer tipo de questão burocrática que lhe complique a vida. O mesmo não se passa com o casamento. Todos sabemos que há cada vez mais pessoas a separarem-se, mas já implica outras questões. Muitas vezes já há filhos. E, por muito que digam e até queiram dizer que ‘é normal’ nestes tempos, eles sentem muito estes afastamentos. A sua atitude comportamental, a sua disposição, as suas notas escolares… são apenas alguns dos reflexos que se sentem quase no imediato.

Não se trata aqui, de modo algum, de defender ou deixar de defender as opções de cada um, trata-se apenas de constatar o óbvio.

Voltando ao assunto inicial, à entrega das crianças que foram adotadas, preocupa-me esta selvajaria da humanidade. Enquanto as crianças fazem tudo o que ‘os pais adotivos’ mandam, está tudo bem, mas quando chegam à idade que todos chegamos, das birras, afirmações e muita parvalheira, o menino ou a menina já não interessam. E, como se fosse um produto qualquer, terminada a bateria é tempo de a entregar.

Será que se tivessem filhos do seu sangue, estas pessoas fariam o mesmo?