Quando falamos de saúde somos, infelizmente, ainda invadidos por
sentimentos de alguma revolta. Quem não se lembra das filas intermináveis,
obrigando os utentes a madrugar para conseguir uma consulta? Quem não recorda
as palavras de algum vizinho a dizer que ‘o médico não pode passar
atestados de robustez para a carta de condução no Posto Médico’, mas
só faz isso em casa dele (consultório privado, entenda-se)?
Foi mais ou
menos este dilema que milhares de pessoas viveram em Fafe durante décadas. E
nós não fomos exceção na marcação de consultas, já que o atestado de robustez
foi passado no posto Médico, afinal aqui o jovem já sabia que nenhum médico
poderia conhecer melhor o seu paciente do que o médico de família. Ir ao médico
era já de si um problema que só se recorria em último caso. E, o mais
engraçado, sem qualquer tipo de piada, é que não vai assim há tanto tempo.
Depois
chegamos a Coimbra. Chegamos ao Centro de Saúde de Celas e foi passar do Inferno
ao Paraíso, só porque aquela funcionária da limpeza, a quem nunca mais consegui
agradecer, me aconselha a escolher como Médico de Família, ainda que a
funcionária da secretaria repita que não pode dizer, o Dr. António Rodrigues.
Um humanista. Uma pessoa de caráter forte e determinado, capaz de defender os
seus utentes mesmo contra as próprias manobras de alguns colegas, o que é quase
impossível num meio tão corporativo, mas foi uma das figuras centrais que deram
início às USF (Unidades de Saúde Familiar). Este Profissional de saúde
mostrou-me que o SNS, o serviço público, tem qualidade. Embora tivesse ouvido
nas suas palavras que o Centro de Saúde onde trabalhava ainda não estava como
ele desejava, o certo é que “qualquer utente seu tinha consulta todos os dias,
durante a semana, das 9h às 10h, sempre que surgisse uma situação mais aguda”.
Depois vinham as consultas agendadas, primeiro os mais idosos e depois os mais
jovens, que ‘gostam de dormir até mais tarde’, ou não fosse Coimbra uma cidade
de Estudantes.
António
Arnaut vai ser homenageado em Fafe durante o Terra Justa. António Arnaut, o
responsável máximo por criar um serviço de saúde para todos, será homenageado
na minha cidade. Embora Fafe não tenha respeitado durante anos a verdadeira
essência do SNS, a verdade é que agora está obrigada a respeitar as melhorias
conseguidas com as USF, por sua vez, integradas no Serviço Nacional de Saúde. É
motivo de regozijo. É motivo de aplauso. Coimbra, a minha Coimbra, estará
representada na minha cidade e de uma forma nobre e elevada com uma homenagem a
António Arnaut. O Homem que trouxe a saúde às pessoas. O Homem que, apesar de
tanta influência, esperava pela sua vez para ser operado às cataratas no
hospital público.
Obrigado
António Arnaut. Obrigado António Rodrigues. Obrigado Camaradas. Obrigado aos
profissionais de saúde que trabalham para dar a melhor saúde às pessoas,
sobretudo às mais vulneráveis.
Só tenho pena
que esta homenagem de agradecimento não possa mais ser possível com a presença
física de António Arnaut.