sexta-feira, 24 de outubro de 2014

As "Mães solteiras" e os Padres (de seus filhos)

As mães solteiras, tantas vezes desprezadas pela própria Igreja, tinham filhos de Padres.
Já nasci num tempo em que ter um colega ou um amigo filho de uma senhora que não estava casada não importa nada. Não para a sociedade em geral, até porque isto ainda continua a fazer alguma mossa, sobretudo em meios rurais, que facilmente são ultrapassados com a aceitação da família. Muito mais do que o facto de ser solteira, o que realmente importa nestes casos é o suporte emocional que os envolvidos estão inseridos, pois espera-se sempre conhecer o seu bem-estar para esta família.
Toda esta hipocrisia social e ‘religiosa’ começou por ser acalmada com a obrigatoriedade de registar sempre na criança o nome da mãe e do pai, porque aqui a obra do espírito santo não funciona…
Já há algum tempo andava para escrever algo sobre este assunto. Saber que ainda há Padres que desprezam e marginalizam as mães solteiras, mais do que revolta, desculpem a expressão, mas dá-me nojo destes atos e por virem de uma Igreja na qual eu me incluo. Não em tudo, como facilmente se pode ver. Sou mais um adepto do Papa Francisco. Esse sim, segue a verdadeira lei da Igreja. As regras em que Deus é o centro mas só há Deus com o acolhimento do seu Povo.
Impedir uma mãe de acompanhar a sua filha ao altar numa comunhão solene, por exemplo, só porque esta não é casada? Impedir a uma mãe solteira de comungar?
E os Padres que têm filhos e continuam a celebrar? Não comungam? E os Padres que afrontam o celibato? E os Padres que chantageiam pessoas, difamam, maltratam?
Como dizia o Papa Francisco, «não há mães solteiras, há Mães».
A Igreja Católica, reunida há muito pouco tempo em Roma, mostrou ao mundo que quem decide as leis são os Bispos (que são homens). São eles que se reúnem e votam se as ‘mães solteiras’, os gays, os divorciados… podem ou não receber os sacramentos. São eles que decidem se o ser humano é pessoa ou se há umas mais pessoas do que outras.
A Igreja, na minha opinião, continua a querer dar ao mundo uma disciplina que eles próprios (os Bispos e Abades) não a conseguem seguir. Não será altura de mostrar ao povo que a Igreja de Deus é mais abrangente do que a dos Padres?

Deixo aqui um texto que merece alguma reflexão, retirado de registos de batismo:
 «Aos 27 deste mês de Dezembro de seiscentos e quarenta e um, baptizei Maria, filha de Catarina, solteira, a qual Catarina é filha de Domingos Luís, do Minhoso; foi padrinho Domingos, solteiro, filho de Domingos Gonçalves, de Eiriz, e madrinha Antónia Jorge, mulher de Gonçalo Pinto, do Souto.

Não ponho aqui o pai porque deram um, e consta-me outro, e declaro aqui e certifico isto como Cura e notário apostólico que sou, que se não dê crédito ao pai que as mulheres solteiras desta freguesia dão aos filhos no baptismo, poque os fazem com uns e dão outros, como fez Maria (Ferreira?) da Devesa uma filha por nome Maria, à qual lhe baptizou o Padre Francisco Mateus Toscano, está a folhas 66 deste livro: deu por pai a um Belchior Camelo, de São Tomé, e hoje está tida e havida por filha de João de Azeredo; mais Antónia Ferreira, da Devesa, pariu um filho que eu rebaptizei a folhas 80, deu por pai Gaspar Teixeira, e o Abade de São Tomé o levou para casa como foi de 3 anos, e o cria e traz como sobrinho de seu irmão.

Muitos exemplos destes tenho como certos, que não ponho aqui por não (enfadar?), que tudo tenho bem experimentado desta matéria.
Hoje, 29 de Dezembro de [1]641. António Vieira» [Ancede]

Fonte: Facebook