Os acessos eram difíceis. Quem não alinha com a escumalha
está fodido. Não há palavras mais suaves para descrever. É a voz do povo! Não,
pensando melhor, é só o desabafo de alguém do povo, porque o povo é cobarde e
muda de posição conforme as trombetas do poder.
Voltava ali vezes sem conta. As saias envergonhadas das
senhoras baronesas, verificadas ao milímetro antes de saírem à rua, espelhavam
bem a sumptuosidade de cada gesto calculado.
A timidez de Joaninha era tão natural como a sua beleza. Conquistar
o seu coração não parecia difícil, avaliando pelas conversas melodiosas
travadas pelo olhar. Agradar sua mãe poderia ser tarefa mais complicada. Ser filho
do Presidente é diferente de ter o apelido do mordomo.
Jornal de baixo do braço dá sempre um ar mais
intelectual. Encostado às grades e folheá-lo devagar enquanto a festa não
começava, permitia sempre estar mais perto dela. Do outro lado da rua era o
café da oposição. São sempre os mesmos. Já me tinha apercebido de algumas
movimentações estranhas, pelos vistos vão criar um jornal novo. É o melhor que podem
fazer, em vez de estarem sempre a dizer mal do semanário local. Assim colocam
lá quem querem e lançam as próprias notícias. Mesmo dizendo que são isentos. Até
aqueles que estão sempre a escrever essa treta nos editoriais… tão isentos que
eles são… nem sei como ainda pagam impostos.
O sarau está demorado. O senhor deputado ainda não chegou
de Lisboa. A vida tem destas coisas. Esperar por um deputado. Se fosse ao menos
o Morgado de Fafe ainda valia a pena esperar. Precisamos é de comédia. Isto anda
muito tenso. Anda tudo à procura da fotografia. O problema é que alguns julgam que
os jornalistas quando saem à rua é para os ver… tão anjinhos…
«Felizes os pobres… porque deles é o reino dos céus». Deve ser
deve. Se comesses água de feijão todos os dias... tu é que vias o que é ser feliz.
Palhaço.