sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

A praxe de Coimbra

Sou a favor da praxe! 
Não sou a favor da ‘estupidez’ na praxe! Sou totalmente contra qualquer ‘doutor’ frustrado que não sabe o que a praxe significa e quer mostrar a sua raiva de autoritário sobre o caloiro que é seu semelhante porque também pertence à mesma Academia.
Sou contra os “praxistas” como sou contra os “anti praxe”. Ambos não respeitam a liberdade.
Tive a feliz sorte de entrar na minha primeira opção: Línguas e Literaturas Clássicas e Portuguesa na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Quando lá cheguei, as coisas pareciam-me um pouco estranhas, visto que estava habituado a viver em comunidade e nos primeiros dias sentia-me um pouco sozinho na casa que arrendei. Mas foi ‘sol de pouca dura’! A malta do meu curso era um pouco invejada. Ainda que os telemóveis fosse na altura coisa de ‘riquinhos’, o que não era o meu caso, só tive o primeiro telemóvel dois anos depois, havia lugares da cidade que eram dos ‘clássicos’ e logo me foram apresentados para que a gente se encontrasse. O primeiro passo estava ganho. O segundo foi entrar para uma Residência de Estudantes – Residência Universitária João Jacinto, onde fui recebido e tratado como um senhor. E em terceiro lugar surgiu o convite de entrar numa República. Ao contrário de algumas outras que proibiam os estudantes de entrar de ‘capa e batina’, a República da Praça, a minha República, tinha malta que não usava mas outros que não só usavam como faziam questão de seguir as regras do código da praxe. Sim, o código da praxe, porque Coimbra tem um código da praxe.
A praxe não é igual em todo lado. É verdade que também vi muita estupidez. E também é verdade que me insurgi contra alguns colegas que às vezes queriam abusar de uma ou outra situação dos caloiros e à minha frente não se safavam muito. Sabem porquê?
Muito simples: a praxe que me incutiram, a malta do meu curso, da minha Residência e muito da minha República foi uma praxe de ajuda mútua. O caloiro anda à procura de casa? Vamos levá-lo lá! Os pais do caloiro precisam de alguma orientação? Nós estamos aqui! O caloiro está doente? Toca a perguntar se precisa de alguma coisa porque nós somos a família dele em Coimbra.
E as brincadeiras? É pá, trincar nabos? Já o fiz à dentada como mandam as regras e de garfo e faca, uma tradição da minha república. Os doutores praxistas ficavam irritados, As doutoras pediam para tirar fotos com elas porque era original (Esta malta mais velha sabia-a toda).
A praxe para mim é isto! Cantar, saltar, beber (só se apetecer e nunca obrigar) e ajudar, ajudar, ajudar!
Nunca gostei de ver os ‘anti praxe’ que penduram bonecos trajados ou que não deixam entrar nas suas casas de Capa e Batina, isto só revela falta de liberdade.
Por estas e por outras, a minha República, a República da Praça que fica na Praça da República é a melhor. Quem vier por bem é bem-vindo!

A Inês, a menina da foto, é a “caloira” dos jantares semanais que fazemos em Coimbra na Mansão do Olimpo. Porque a caloirinha não gosta de feijões, o Fernando (cozinheiro de serviço) preparou-lhe um prato especial. 
Malta, é assim que se tratam os caloiros!

Foto por Tita Vale (Estudante de Medicina na UC)