11h45!
A campainha está prestes a tocar e o pensamento será mais uma vez interrompido
para dar lugar à última aula da manhã. O tema é a União Europeia. Não poderia
ser mais adequado ao momento. Sobretudo porque foi aprovado um dos orçamentos
mais contestados. A sala de aula propunha o local ideal para um debate aceso.
A
campainha está a dar o sinal. Volto já!
13h23!
O almoço é indispensável para continuar o trabalho e a vida. Não. Não foi uma
aula acesa. No fundo da sala ouve-se uma voz em meio-tom: “Política, não gosto
nada”. Depois de marcadas as presenças e sumariado o assunto em análise, as
primeiras palavras vão no sentido de uma explicação, mais uma vez, sobre a
necessidade de conhecer e interagir com as organizações que nos governam, mesmo
sem grande apreço, estas são fundamentais à nossa vida. Dependemos de
estruturas políticas, económicas e sociais. Participar nelas é mais do que um
dever, é uma obrigação. A nossa não participação significará a ascensão de
políticas que podemos não concordar. A aula seguiu mesmo o planeado, a
simbologia e os tratados da EU foram analisados e apenas surgiram dúvidas de
circunstância, sem que alguma vez se sentisse a necessidade de enveredar por
temas mais destacados no momento.
A
política é um tema pouco promissor. É claro que há quem opte por seguir o rumo
político e se afigure como um elemento indispensável à boa organização de um
partido ou grupo de cidadãos, mas não está a ser nada fácil chamar a atenção
dos mais jovens para esta questão que a todos diz respeito. São trapalhadas
atrás de trapalhadas. São atropelos à democracia. Bofetadas nos valores.
Maquiavélicas ações cumpridas à risca.
A
política está descaracterizada. Os jovens não acreditam. A política é uma seca.
Resta-nos
seguir o programa e colocar informação sobre a mesa. Fomentar o espírito
crítico num mesmo espírito aberto, antidogmático e tolerante. Incentivar à
construção de um discurso argumentativo, sempre atento às questões sociais. A
participação cívica é matéria lecionada nos bancos da escola. Os discursos
‘abrilescos’ são construídos na base destes mesmos princípios, mas os exemplos
lançados sobre a sociedade não beneficiam as palavras do discurso elegante no
dia do cravo.
Cidadania participada?
Pedro Miguel Sousa, in Jornal Povo de Fafe (30-11-2012)