sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Cidadania participada?


                11h45! A campainha está prestes a tocar e o pensamento será mais uma vez interrompido para dar lugar à última aula da manhã. O tema é a União Europeia. Não poderia ser mais adequado ao momento. Sobretudo porque foi aprovado um dos orçamentos mais contestados. A sala de aula propunha o local ideal para um debate aceso.
                A campainha está a dar o sinal. Volto já!
                13h23! O almoço é indispensável para continuar o trabalho e a vida. Não. Não foi uma aula acesa. No fundo da sala ouve-se uma voz em meio-tom: “Política, não gosto nada”. Depois de marcadas as presenças e sumariado o assunto em análise, as primeiras palavras vão no sentido de uma explicação, mais uma vez, sobre a necessidade de conhecer e interagir com as organizações que nos governam, mesmo sem grande apreço, estas são fundamentais à nossa vida. Dependemos de estruturas políticas, económicas e sociais. Participar nelas é mais do que um dever, é uma obrigação. A nossa não participação significará a ascensão de políticas que podemos não concordar. A aula seguiu mesmo o planeado, a simbologia e os tratados da EU foram analisados e apenas surgiram dúvidas de circunstância, sem que alguma vez se sentisse a necessidade de enveredar por temas mais destacados no momento.
                A política é um tema pouco promissor. É claro que há quem opte por seguir o rumo político e se afigure como um elemento indispensável à boa organização de um partido ou grupo de cidadãos, mas não está a ser nada fácil chamar a atenção dos mais jovens para esta questão que a todos diz respeito. São trapalhadas atrás de trapalhadas. São atropelos à democracia. Bofetadas nos valores. Maquiavélicas ações cumpridas à risca.
                A política está descaracterizada. Os jovens não acreditam. A política é uma seca.
                Resta-nos seguir o programa e colocar informação sobre a mesa. Fomentar o espírito crítico num mesmo espírito aberto, antidogmático e tolerante. Incentivar à construção de um discurso argumentativo, sempre atento às questões sociais. A participação cívica é matéria lecionada nos bancos da escola. Os discursos ‘abrilescos’ são construídos na base destes mesmos princípios, mas os exemplos lançados sobre a sociedade não beneficiam as palavras do discurso elegante no dia do cravo.
                Cidadania participada?
Pedro Miguel Sousa, in Jornal Povo de Fafe (30-11-2012)