A cidade de Fafe está a ser reduzida a
um dormitório. Esta é uma realidade que não se pode mais ignorar. Vão surgir
múltiplas explicações ao sucedido nos próximos tempos, usando sobretudo os
cortes na administração pública como principal evidência, mas a falta de
movimentação das pessoas é reflexo de um desprezo sentido em não ver resolvidas
as suas reais necessidades e que levou a uma adaptação às realidades que
surgiam.
Reportando-nos
um pouco à história da nossa comunicação social, somos confrontados, por
exemplo, com vários artigos sobre a construção de novas escolas sem um número
de alunos que o justificasse e o tratamento de serviços de saúde diferenciados
em certas Extensões de saúde. O resultado está bem à vista, na reestruturação
escolar surgiram os agrupamentos, deixando grande parte das escolas ao
abandono, e os utentes procuraram outros serviços na saúde que respondessem com
prontidão aos seus problemas.
Quando
estes problemas foram alertados na comunicação social, relativamente à
construção de escolas sem necessidade, ao fecho das urgências (alegavam os
autarcas que se iria construir um hospital novo) e mesmo por parte das
populações em relação aos serviços de consulta na saúde (os responsáveis nesta
matéria ignoravam publicamente que não existia qualquer problema, até porque os
livros de reclamações estavam em branco), ninguém se interessou com os alertas
nem da imprensa nem da população. Agora estão admirados por as pessoas não
tomarem iniciativas e lutarem para continuarem a ter hospital ou tribunal em
Fafe?
Há
cerca de dez anos, o percurso de Fafe a Guimarães, em dia da semana, demorava
mais tempo do que chegar depois ao Porto. Hoje já não é assim, mesmo sem usar a
autoestrada, a via rápida permite que a deslocação seja rápida e eficaz. Se
estivermos atentos ao quotidiano da população fafense, vemos que grande parte
da população da zona sul do concelho já usa há muito tempo o Hospital de
Felgueiras como prioridade em caso de urgência e uma outra parte da população
já vai direta ao Hospital de Guimarães.
Os
responsáveis políticos e Administrativos em Fafe, se pretendem continuar a ter
uma palavra a dizer, precisam de apostar em serviços de qualidade, até porque
cada vez estamos mais perto de tudo, e ouvir mais as pessoas e menos a defesa
do seu cargo ou até os interesses corporativos e partidários. Mas sabemos que
isso não está ao alcance de todos, como disse Martin Luther King: «Para criar
inimigos não é preciso declarar guerra, basta dizer o que pensa.»
Pedro Miguel Sousa, in Jornal Povo de Fafe (18-05-2012)