sábado, 19 de maio de 2012

Fafe perde serviços porque não sabe ouvir


A cidade de Fafe está a ser reduzida a um dormitório. Esta é uma realidade que não se pode mais ignorar. Vão surgir múltiplas explicações ao sucedido nos próximos tempos, usando sobretudo os cortes na administração pública como principal evidência, mas a falta de movimentação das pessoas é reflexo de um desprezo sentido em não ver resolvidas as suas reais necessidades e que levou a uma adaptação às realidades que surgiam.


            Reportando-nos um pouco à história da nossa comunicação social, somos confrontados, por exemplo, com vários artigos sobre a construção de novas escolas sem um número de alunos que o justificasse e o tratamento de serviços de saúde diferenciados em certas Extensões de saúde. O resultado está bem à vista, na reestruturação escolar surgiram os agrupamentos, deixando grande parte das escolas ao abandono, e os utentes procuraram outros serviços na saúde que respondessem com prontidão aos seus problemas.
            Quando estes problemas foram alertados na comunicação social, relativamente à construção de escolas sem necessidade, ao fecho das urgências (alegavam os autarcas que se iria construir um hospital novo) e mesmo por parte das populações em relação aos serviços de consulta na saúde (os responsáveis nesta matéria ignoravam publicamente que não existia qualquer problema, até porque os livros de reclamações estavam em branco), ninguém se interessou com os alertas nem da imprensa nem da população. Agora estão admirados por as pessoas não tomarem iniciativas e lutarem para continuarem a ter hospital ou tribunal em Fafe?
            Há cerca de dez anos, o percurso de Fafe a Guimarães, em dia da semana, demorava mais tempo do que chegar depois ao Porto. Hoje já não é assim, mesmo sem usar a autoestrada, a via rápida permite que a deslocação seja rápida e eficaz. Se estivermos atentos ao quotidiano da população fafense, vemos que grande parte da população da zona sul do concelho já usa há muito tempo o Hospital de Felgueiras como prioridade em caso de urgência e uma outra parte da população já vai direta ao Hospital de Guimarães.
            Os responsáveis políticos e Administrativos em Fafe, se pretendem continuar a ter uma palavra a dizer, precisam de apostar em serviços de qualidade, até porque cada vez estamos mais perto de tudo, e ouvir mais as pessoas e menos a defesa do seu cargo ou até os interesses corporativos e partidários. Mas sabemos que isso não está ao alcance de todos, como disse Martin Luther King: «Para criar inimigos não é preciso declarar guerra, basta dizer o que pensa.»

Pedro Miguel Sousa, in Jornal Povo de Fafe (18-05-2012)