domingo, 30 de outubro de 2011

Os ditadores acabam no esgoto


Ninguém podia ficar indiferente às imagens horríveis que se apoderaram das nossas televisões durante todo o passado fim-de-semana. Depois de vários meses de perseguição, o homem mais procurado da Líbia é capturado e o tratamento não foi nada agradável de se ver. Neste momento, há duas questões que se levantam: a execução e a transmissão das imagens pelas agências noticiosas.
A primeira pergunta levanta a problemática da ‘justiça pelas próprias mãos’, mas se atentarmos ao clima de guerrilha instalado, logo nos apercebemos que nestas circunstâncias é a força do momento que comanda. Ninguém tem o direito a tirar a vida a ninguém, mas estamos a falar de guerra e de muitos anos de tortura, o que não é fácil parar a ira de pessoas e famílias maltratadas por um regime sem escrúpulos. Era melhor entregar à justiça? Certamente que sim, mas será que alguém conseguiria ter sangue frio para o fazer?
Uma outra questão que se coloca é mesmo a transmissão de imagens durante os jornais televisivos: Há tantas restrições para que os miúdos não possam ver determinadas imagens e num caso destes, em horas fulcrais próximas do almoço e do jantar e com as famílias reunidas, somos bombardeados com altos actos de violência. Era mesmo importante mostrar todo aquele aparato sobre o indivíduo?
No final de tudo isto, relembrando o que tem acontecido em diversas partes do globo, todos os ditadores são heróis até que o povo acorde e se aperceba que juntos valem muito mais do que todo o exército que os protege. Os ditadores, por norma, fazem acreditar ao comum dos mortais que são uma espécie de deuses e estão protegidos, mas todos têm debaixo dos seus palácios labirintos ou altas contas em ilhas paradisíacas em caso de terem de escapar da ira do (seu) povo.
Quantos ditadores ainda se disfarçam de cordeiros? Ainda há muitos. Alguns apenas com pequenos poderes, mas vão tendo alguma importância porque estão no poder e com isso lá vão distribuindo umas migalhas para uns e para outros… será que vão ser adorados quando deixarem de ter migalhas? Será que aqueles que hoje andam com eles ao colo vão continuar ao seu lado quando não tiverem nada para lhes dar? Será que vão visitá-los ao hospital quando se encontrarem doentes?
Na hora de grande aflição não são os que estão mais distantes, os críticos e opositores, que os condenam, mas aqueles que tinham tudo com o ditador e passam a não ter nada após o seu declínio. Pelo contrário, são os que mais os criticam que aceitam que as suas condenações sigam pelas vias da justiça e não pelas próprias mãos. Até porque desse ditador só esperavam a queda, ao contrário de muitos que os apoiam que não só querem dividendos materiais como lugares melhores do que os seus semelhantes.
Moral da história: Os oportunistas juntam-se aos ditadores, os outros estudam e trabalham para viverem das suas capacidades.
Pedro Miguel Sousa
in Jornal Povo de Fafe (28-10-2011)