sexta-feira, 22 de julho de 2011

Por favor, não leia esta crónica!

Se já está a ler estas palavras não passou no teste. O objectivo desta crónica é mesmo para não ser lida, até porque o que mais importante não surge nas primeiras linhas e vai chegar à conclusão que está a perder o seu tempo. Mais uma vez pedimos: por favor, não leia esta crónica!
A partir deste momento a responsabilidade é sua!
Se chegou até aqui é porque quer mesmo ler a crónica até ao fim, o que já entendeu que a responsabilidade será do leitor e jamais do responsável pela sua redacção. Este deveria ser sempre o sentimento dos leitores. Com isto não queremos desresponsabilizar os jornalistas que escrevem notícias ou os colaboradores que vão dando a sua opinião, mas queremos dizer que o que se diz não tem de ser obrigatoriamente o que se entende.
No caso das notícias, a sua construção tem de primar pela objectividade, mas nos artigos de opinião estes não necessitam de o ser. É de opinião que se trata e, por vezes, há situações em que o artigo diz uma coisa e os comentários que se ouvem ou lêem nada têm em comum com o que está lá escrito. Saber ler não é apenas juntar as letras e pronunciar uns sons, mas sim interpretar.
Estes dias temos sido bombardeados com o caso das escutas que fizeram estragos demais, mas se pararmos para pensar podemos questionar: por que será que aquele tipo de jornalismo tem tanta importância? É fácil de perceber, a curiosidade em conhecer o que se passa sobre os famosos, os adversários ou simplesmente sobre os vizinhos é uma tentação para muita gente que orienta a sua vida em função dos outros e procura na informação, independentemente de onde ela surgir, um meio para se sobrepor aos outros.
Tudo isto para dizer que há certas notícias que só existem porque há consumidores. As direcções dos jornais são as primeiras responsáveis porque publicam, depois são os jornalistas ou colaboradores e, por fim, os leitores que se alimentam de tão rascas informações.
Estes acontecimentos vão levantar novamente a discussão sobre o jornalismo e os diferentes tipos de jornalismo e, certamente, pode ser uma viragem na forma como se faz jornalismo e obrigar a que cada instrumento de comunicação assuma a sua função. Também sabemos que vão continuar a existir controladores da informação e outros que vão publicar tudo o que considerarem pertinente. Da nossa parte, apesar do risco que se corre, prefiro uma liberalização informativa que respeite as leis do que uma ditadura disfarçada, até porque ‘Sou responsável pelo que escrevo, não pelo que é entendido!’

Pedro Miguel Sousa
in Jornal Povo de Fafe (22-07-2011)