sábado, 22 de maio de 2010

Educação de artes ou artes de educação

A Escola tem sofrido enormes transformações nos últimos anos. O que antes parecia ser um dado adquirido, hoje está obsoleto e quase parece irremediável, mas o certo é que se encontra simplesmente numa fase transitória que pode significar uma hecatombe ou um júbilo, tudo dependerá da garra dos agentes da educação.
A Escola já não mete medo. Há muitos pais com pouco pulso. Existem educandos, apesar das tenras idades, que têm ao seu dispor ferramentas que lhes permitem viajar no mundo com tudo o que isso tem de bom e de mau. Ou seja, estamos mesmo numa era de viragem, onde os jovens manuseiam as tecnologias com maior eficiência do que os seus encarregados de educação, ainda que não tenham uma experiência que os possa suportar em todas as entraves.
As apostas na educação seguiram um determinado rumo, num momento em que surgiu essa necessidade, mas precisam ser revistas com urgência para que a sociedade possa crescer e competir com carisma empreendedor. Não se pode esperar mais que os meninos sejam fechados e a Escola lhes incuta a ordem, a disciplina e o conhecimento, mas sim que a Escola seja o complemento na educação e na orientação.
Apesar de algumas apostas disfarçadas numa aprendizagem apenas para estatística, o certo é que há bons resultados na aposta em cursos muito mais práticos e já se percebeu que são estes que continuam a angariar mais adeptos em detrimento dos teóricos. Neste momento, é necessário reorganizar e disponibilizar mais horas e recursos nas áreas artísticas e criativas.
As Novas Oportunidades trouxeram os nossos pais às escolas para validarem as suas competências ou para se requalificarem numa outra área, mas apostaram também naqueles jovens que de outro modo jamais sairiam do ensino básico, mas conseguiram sobretudo fazer com que as pessoas procurassem mais e melhor formação e enveredassem por um caminho profissionalizante, o que nos parece agora é que o país precisa de perceber que está na altura de uma nova investida e esta passa pela aposta na educação pelas artes e no regresso da educação mais erudita, onde no primeiro caso temos o fluir da criatividade em escala ascendente e, no segundo caso, as línguas clássicas que assumem um papel fundamental e estruturante, não só na aquisição de conhecimentos de excelência na língua e cultura portuguesa ou outras línguas românicas, mas também numa estrutura mental capaz de um exercício lógico que consiga uma desenvoltura rápida e eficaz.
Se o caminho se faz caminhando, a educação também se faz de etapas, mas o país não pode desperdiçar esta oportunidade de fazer com que as pessoas que voltaram à escola saiam sem aprofundar conhecimentos e saberes, só assim é que se conseguirá um crescimento cultural e intelectual no país que levará a um avanço dos povos e da própria economia.
Pedro Miguel Sousa
in Jornal Povo de Fafe (21/05/2010)