sábado, 24 de abril de 2010

Muita gente não se quer rever naquilo que fez!

«É jornalista, católico, vai à missa e escreve isto?» Depois de ouvir esta frase, que poderia ser direccionada para qualquer ouvinte, mas teve a intenção encoberta de apontar o jornalismo e os jornalistas, achamos por bem colocá-la à apreciação de um público atento para que possa tirar as suas conclusões.
Num tempo e num espaço de reflexão, a frase pretendia apontar o incomodo de jornais e jornalistas, num período conturbado para a Igreja Católica, que relatam os factos de uma sociedade, mas um relato que não interessa ser descoberto, sob pena de trazer consequências nefastas para os autores de situações menos transparentes.
Sendo o Povo de Fafe um Jornal de inspiração cristã, os seus valores passam pela doutrina da verdade e da justiça, o que nos parece que em nada se atropelam com os ideias de outros jornais que procurem a veracidade dos factos. Contudo, deparamo-nos imensas vezes com alguns entraves na aceitação de artigos que mostrem uma verdade em nada gloriosa para os seus autores, mas a pergunta que se coloca é sempre a mesma: por que será que as pessoas fazem as coisas e depois não aceitam que sejam relatadas?
Um jornalista católico, ou apenas um católico, deve seguir a doutrina de Deus e não a dos homens. Um jornalista católico deve procurar dizer sempre a verdade e nunca se calar perante as injustiças cometidas aos mais desfavorecidos. Um jornalista católico não deve deixar de descrever uma situação má só porque foi um líder religioso ou alguém que anda sempre na igreja, porque ‘não é só o que diz meu Deus, meu Deus, que entra no reino dos céus’.
A questão que os católicos devem fazer é outra: Sou católico, devo fazer isto? Certamente que Deus lhe ficará bem mais agradecido, porque é melhor pensar e fazer do que fazer e depois insurgir-se contra um jornal ou jornalistas que apenas fazem o seu trabalho.
Se os artigos não apresentarem verdade, há sempre a hipótese de confrontar, mas para isso terá mesmo de existir ‘uma verdade que o comprove’, nunca tentar encobrir ou pedir para que outros assumam as nossas culpas. Parece-nos que este será o caminho mais correcto para um jornal de inspiração cristã, não será?
Ou será que um jornalista católico deve deixar de cumprir escrupulosamente o seu trabalho só porque pertence a uma mesma religião que os autores de momentos comprometedores? Isto não seria regredir no tempo?
‘Quem não deve não teme’!
A Igreja católica precisa rever os seus conceitos e a sua forma de actuação, porque é penoso demais ter dois Santos Padres que após assumirem a sua missão viram-se obrigados a pedir desculpas ao mundo pelos pecados da própria Igreja! Esta é uma cruz muito pesada!
Se a preocupação fosse ‘sou católico, devo fazer isto?’ em vez de uma preocupação com o que os jornais relatam, até porque quando isso acontece o erro já foi cometido, talvez teríamos um mundo um pouco melhor.
Pedro Miguel Sousa
in Jornal Povo de Fafe (23/04/2010)