sexta-feira, 5 de março de 2010

A cultura também são edifícios…

Numa recente conferência na Universidade de Coimbra, o Secretário de Estado da Cultura, Elísio Summavielle mostrava a importância e necessidade de fazer um registo de todo o património arquitectónico. No imediato, Fafe e o seu património foi o nosso alvo de análise e deparamos que mais uma vez este concelho perde as suas potencialidades na falta de uma animação cultural e turística capaz e em sintonia.
Seria injusto falar da necessidade da recolha de informação e respectivo registo se depois não houvesse uma animação cultural que o justificasse, porque quem faz a cultura não são as obras, mas os espectadores atentos que comentam, criticam e de uma forma ou de outra intervêm e a complementam.
Procuramos não entrar em questões político-partidárias, porque essas são sempre as grandes entraves de um forte desenvolvimento, mas não podemos continuar serenos ao assistir ao desperdício de verbas que a autarquia lhe permite, para entretenimentos supérfluos, quando o que está em questão é uma cidade, que preferimos sempre dizer ‘concelho’ coberto por uma rede de infra-estruturas culturais capazes de permitir um desenvolvimento e enriquecimento das suas populações e de hipotéticos visitantes.
Na verdade, tudo é tão supérfluo, tudo é tão mesquinho, tudo é tão ridículo, mas o certo é que estas terminologias de pseudo-intelectuais deixam de ter importância quando verificamos que é ‘no povo e nas suas artes’, ainda que populares, que está um verdadeiro caminho a seguir e explorar. É, ao mesmo tempo, na recuperação de edifícios e na sua classificação como património que Fafe ganha a sua própria identidade. Ao mesmo tempo, aproveitando os recursos já existentes, o aumento de rota de pedestrianismo, a aposta num turismo rural em sítios estratégicos, uma animação eficaz e saudável são sempre ingredientes de sucesso. É verdade que nada se consegue sem dinheiro, mas valerá a pena insistir que há projectos à espera de candidaturas?
Haverá alguma razão especial para que de uma vez por todas os agentes culturais se apercebam que têm de exigir muito mais dos seus autarcas? Obviamente não é de dinheiro que nos referimos, mas de apoio técnico, jurídico… ainda que não tenhamos tido a oportunidade de assistir, é importante fazer acções para mostrar onde estão e como se consegue a aprovação dos projectos (Jovens em Acção, organizado pelo Vereador da Cultura), por que não seguem outros Vereadores o mesmo princípio? Não foi para ajudar Fafe que foram eleitos? Toca a sair do ar condicionado e sentir o que o concelho realmente precisa…
in Jornal Povo de Fafe (05/03/2010)
Pedro Miguel Sousa