Não se pode ignorar o que é genuíno. Voltamos a Fafe. Chegamos fisicamente algumas vezes e de pensamento todos os dias. Fafe viu-nos nascer e crescer. Mesmo se nos adaptamos com facilidade a outras localidades por força do ofício, o certo é que aquele é o nosso cantinho. Há sempre uma atenção redobrada em torno das suas gentes, usos e costumes. Fafe é terra da Justiça e é essa a imagem que melhor vende Fafe. Valorize-se o símbolo da Justiça de Fafe!
Considero
que é na procura de elementos especiais que fazem correr as televisões aos
locais sem que haja para isso uma catástrofe. As televisões também são capazes
de promover cultura sem levar milhares aos bolsos dos contribuintes nos
programas de domingo à tarde. As sextas-feiras 13 em Montalegre. A festa de
chocolate de Óbidos. A feira medieval de Santa Maria da Feira… e agora Cabeça
Aldeia Natal em Seia.
Fafe
precisa deixar de ter vergonha do epíteto da justiça. Eu sou de Fafe e tenho
orgulho em me afirmar pelos valores da Justiça de Fafe. O gajo que agarra pelos
colarinhos a injustiça e a ingratidão e lhe dá a maior das sovas. Não há que
ter vergonha de enfrentar os problemas ou como se diz no Alentejo ‘o touro
pelos cornos’.
Mas
o que interessa isso para Fafe?
As
questões da cultura são muitas vezes desvalorizadas porque não se vê facilmente
o lucro imediato. A economia é quem manda e é preciso dar-lhe atenção porque se
assim não for ninguém se importará.
Considero
que deveria ser facilmente identificável o símbolo da Justiça de Fafe nas
entradas principais da cidade. Uma espécie da figura do homem de capa preta
quando se visita a Régua. Aproveitar as festas do concelho (16 de Maio) para
construir um evento cultural que envolvesse a temática, por exemplo, uma
espécie de ‘julgabestamento’ que seria resolvido ‘à paulada’ numa representação
alegórica em praça pública.
Neste
julgamento da besta, estariam presentes as mais variadas temáticas: a subida
das taxas, a fuga aos impostos, a discrepância entre ricos e pobres, a injustiça
social… enfim, tudo o que coubesse num evento que de alguma forma pudesse
envolver a população fortemente armada com a vara transformada em matéria leve.
“Ridendum
castigat mores” (A rir castigam-se os costumes!), afirmava Gil Vicente e, em
Fafe, já se podia dizer que se faz justiça popular como em Guimarães se celebra
o Pinheiro, no Porto o S. João e na Guarda se julga o pobre do Galo.
O
resultado parece óbvio: os escritores prepararão os textos, os atores a sua
representação, as pessoas envolvem-se na festa, os comerciantes apressar-se-ão
em conseguir elementos alusivos das mais variadas espécies, as televisões têm
novidade, os forasteiros querem presenciar e Fafe fica a ganhar com a sua
imagem de marca, porque “Com Fafe, Ninguém Fanfe”.
In Jornal Povo de Fafe (14/01/2016)