Já lá vão uns anitos.
Onze, para ser mais preciso. Os meus pais e a minha irmã lá vieram para me dar
aquele abraço que só eles sabem dar. O cortejo ainda era a uma terça-feira, não
era fácil para o meu pai que trabalhava no turno da noite fazer aquela viagem
quase sem dormir, mas veio ele, a minha mãe que também não trabalhou nesse dia
e a minha irmã que teve de faltar às aulas.
São muitas as fotos que
contam uma pequena história e poderia selecionar, mas esta é especial. Hoje vou
ao cortejo. Já falta pouco. A malta da minha República já deve andar em
reboliço. Deviam-se ter deitado há uma ou duas horas, a noite foi forte, mas os
velhinhos começam a chegar e ninguém dorme mais. Bem, dormir nesta altura é
brincadeira, estudante de Coimbra não dorme na Queima, só descansa.
«Ó Mãe, eu sou doutor…»
embala-me os ouvidos. Mas sou mesmo. Não é que isso seja um assunto que entre
no meu dia-a-dia. Não é o título. Todos sabem bem disso. Sou e pronto. Mas sou.
E sou porque os meus pais, ainda que de recursos sempre controlados, nunca
desistiram de mim… ou melhor… dizer de nós é mais apropriado. Os seus míseros
salários eram uma vergonha nacional. Mas nunca faltou o pão, nem o arroz, nem a
roupa, nem tudo o que fosse realmente preciso…
Esta é uma pequena
homenagem. A maior está gravada nos meus diplomas onde se conjuga o meu nome
com o deles, porque o meu curso também é deles.
Obrigado Pai, Mãe, Mana.