terça-feira, 9 de julho de 2013

Escola de Artes de Coimbra homenageou Armando Azevedo na Festa de Encerramento do ano letivo







Apresentação da obra de Armando Azevedo

            Armando Azevedo, Professor, Artista Plástico e Performer, desenvolveu um vasto trabalho, sobretudo na década de 70 e início de 80. Com diversas participações individuais e colectivas, onde mais tarde se torna bolseiro investigador da Gulbenkian sobre ‘Trabalho individual/trabalho colectivo nas Artes Visuais’, destaca-se a cumplicidade dos seus trabalhos plásticos e performativos, percorrendo, por vezes, os mesmos lugares e, também, invadindo conscientemente o espaço de cada um.
            Numa época ainda perturbada por um regime ditatorial, começa a frequentar o CAPC (Círculo de Artes Plásticas de Coimbra) em 1969 e torna-se sócio no ano seguinte. Verdadeiramente, após algumas manifestações no campo das artes plásticas, a sua iniciação na performance acontece na resposta à “Agressão com o nome de Joseph Beuys” de Ernesto Sousa, que decorreu na galeria Ogiva em Óbidos[1].
            Embora sempre acompanhando os trabalhos artísticos que o CAPC ía desenvolvendo, neste período intervém mais nas artes plásticas, nos intervalos do cumprimento do serviço militar, regressando depois definitivamente ao CAPC, agora como professor, no início de 1976. Este mesmo ano, ainda no auge das manifestações pós-revolucionárias, numa sociedade que iniciava uma nova fase[2], ficou marcado pelo surgimento de um novo grupo no campo das artes, o Grupo PUZZLE, em que Armando Azevedo participa desde a criação, dando-lhe nome e metodologia.
            Juntamente com os elementos do PUZZLE, Armando Azevedo participa pela primeira vez nos Encontros Internacionais de Arte, os terceiros em Portugal, desta vez na Póvoa de Varzim, onde, para além das inúmeras intervenções como “puzzle”, realiza a sua performance mais elaborada (“Janela”). Desde esta data, as suas intervenções, colectivas - nos respectivos grupos em que participa (GICAPC ou PUZZLE) ou individuais, multiplicam-se e ganham uma dimensão merecedora de o levar a participar nas maiores manifestações artísticas nacionais e internacionais, como os Encontros Internacionais de Arte em Portugal (III - Póvoa de Varzim e IV - Caldas da Rainha), o 1º Symposium Internacional d’Art e Performance, organizado por Orlan em Lyon, a Semaine d’Action no Museu de Arte Moderna em Paris, convidado por Jean-Jacques Lebel e, ao mesmo tempo, expõe na Diagonale – Paris (convidado pela Galeria de Egídio Álvaro), em performática inauguração.



            Conforme a indicação no seu percurso, Armando Azevedo percorreu dois campos distintos, pintura e performance, quer nas suas participações colectivas, quer nas individuais. Estas participações são divididas pelas intervenções individuais e colectivas com o Grupo Puzzle e o Grupo Cores ou GICAPC (Grupo de Intervenção do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra). O Grupo Puzzle é reconhecido pela sua imponência estética e pelos seus membros formados sobretudo pelas Belas Artes do Porto; o GICAPC tem uma intervenção menos formalista, embora com a mesma responsabilidade artística.
            O interesse de Armando Azevedo pela performance surgiu em convergência com algumas experiências teatrais, mas sobretudo com as experiências que aconteciam no CAPC, um espaço onde se levava uma vida quase contínua e inteiramente performativa, ainda que não existisse essa consciência rotulada. O CAPC proporcionava aos seus membros momentos transformados em rituais, o que aconteceu com “a equipa de futebol”, diversos jogos “de adivinhação e magia”, “ceias” na cozinha transformada em bar, acesos “colóquios e debates” na sala de convívio, “festas”… A todas estas vivências, ainda que consideradas banais, era atribuído um carácter agora assumidamente performativo[3].
            Na tentativa de melhor compreender a obra de Armando Azevedo, agrupamos a sua actividade performativa, também indicada pelos seus próprios apontamentos [4], em três campos ou secções: Colagem/Palavras; Cores; Corpo/Formas. Recordamos ainda que a sua prestação artística incidiu sobre duas áreas, pintura e performance, que se completam e até se confundem na intenção, o que nos leva a afirmar que não existe, em nenhum dos seus trabalhos, uma sem a outra. Contudo, será importante reforçar que esta análise não se encerra no que concerne aos agrupamentos que privilegia, o que pode ter várias outras formas de análise, mas à luz do que apontam os registos do próprio artista/performer, esta poderá ser com certeza uma ordenação esclarecedora de toda a sua produção artística. Para uma exposição mais eficaz, em cada campo de actuação (Colagem, Cores e Corpo), agrupamos em primeiro as performances ‘individuais’ e depois as ‘colectivas’, que serão auxiliadas, sempre que possível, por um texto do artista, entrevistas e fotografias.
            Quanto à intenção das obras apresentadas, importa apontar como linha de leitura que Armando Azevedo, numa arte comprometida com o quotidiano em transformação, questiona continuadamente a condição humana. A procura da arethê (excelência) ou, mesmo, o homem enquanto «d’eus» é o seu objectivo primordial, mas nunca dispersando a classe a que pertence o ser humano, isto é, cada homem é composto pelo seu ‘eu’, o sujeito, e todos os outros são o ‘objecto’; mas só a junção dos vários ‘egos’ permite a verdadeira sintonia num mundo em transformação. Por sua vez, esse mesmo mundo é composto pelos pares bem/mal, verdade/mentira, pureza/poluição, ou seja, há sempre mais do que uma saída e cada uma é questionável, cabendo ao espectador analisar e avaliar a sua verdadeira identidade e prosseguir o seu percurso.
            Na nossa opinião, este é o propósito das intervenções individuais e colectivas de Armando Azevedo, autor de uma vasta e significativa obra, ao afirmar-se nos meios artísticos de relevo nacional e internacional. Podemos afirmar que a sociedade, nos seus mais distintos aspectos (sociais, económicos, políticos, religiosos, profanos, ecológicos) é questionada em cada indivíduo justamente através da forma (corpo), da cor (brilho) ou palavra (significado).




[1] Apontamentos de Armando Azevedo, Coimbra, 24 de Junho de 2010, pág. 2.
Cfr. - Metello, Verónica, «notas para uma cronologia», (Revista) Marte N.º 3 (2008), Tema: “De que falamos quando falamos em Performance”, pág. 73.
[3] Cfr. Entrevista a Armando Azevedo, 2011 - 00:00
[4] Cfr. Apontamentos de Armando Azevedo, Coimbra, 24 de Junho de 2010: «… levei o mesmo de espírito de colectivismo e os performáticos jogos de palavras, formas e cores.»