“Actualmente [a cultura] não tem
nenhuma relação com a sociedade, e esta separação leva-nos a uma conclusão
perigosa: que a cultura está estritamente ligada à lei, à produção, ao
dinheiro, ao produto nacional, ao status
de cada indivíduo dentro da sociedade”, Joseph
Beuys.
O setor
cultural e artístico, parente pobre dos executivos sem visão estratégica, definha-se
ainda mais quando em causa estão valores estritamente economicistas. Deixar
este setor à mercê do acaso ou da simples benevolência de um grupo mais
empenhado em servir o poder é permitir o fim da criação artística, o que vem a
estrangular a identidade de uma população.
As autarquias têm um papel fundamental na
preservação da identidade da comunidade que representam. Esse papel pode ser abordado
com sentido elevatório ou destruído sem deixar prevalecer as raízes culturais,
artísticas e patrimoniais. Questionar a cultura nas suas origens, tradições e
festejos, assim como permitir a prática da criação, pode significar não só o
avanço da comunidade, numa perspetiva evolutiva no conhecimento proporcionado
aos cidadãos, mas também em questões económicas se isso possibilitar uma marca
capaz de provocar a lei da oferta e da procura.
O concelho de Fafe é vasto em
património cultural, mas não o tem sabido encarar com o respeito merecido. São
múltiplas as aberrações cometidas ao longo do tempo, seja na destruição
(escolas; moinhos…), no restauro (pontes), ou na própria descaracterização do
tradicional nas mais diversas festividades. Fafe não cria identidade, porque
não quer ou não sabe, não aproveita os recursos, não concebe uma estratégia capaz
de levar o seu nome e ver o retorno nas visitas turísticas, sem necessitar de
despojar quantias avultadas em programas televisivos.
A cidade de Fafe está equipada com
bons edifícios para prática cultural (Teatro-Cinema; Biblioteca; Casa da
Cultura; Museus; Sítios Arqueológicos; Escolas… Moinhos; Alpendres… o próprio
Mercado Municipal), mas falta-lhe um plano de ação, o delinear de uma
estratégia que conjugue todos os esforços para uma prática constante de
pesquisa e posterior promoção de eventos culturais e artísticos. Essa
estratégia, por exemplo, à imagem do que já acontece com as entidades ligadas à
Música, passa pela instalação de outros grupos artísticos (Artes Plásticas,
Artes do Espetáculo e Performativas) no Teatro-Cinema ou mesmo em Escolas
abandonadas, mas grupos obrigados a produzir e a envolver a comunidade, dotados
de reconhecido valor nos seus recursos humanos, que possam contribuir para uma
comunidade efetivamente criativa através da formação de novos públicos,
preservar o património imaterial e, ao mesmo tempo, permitir-se enveredar pela
experimentação de outras expressões artísticas (Teatro, Música, Dança, Cinema,
Escultura, Pintura, Fotografia…) e literárias (Poesia, Conto, Romance,
Dramaturgia…).
Apostar na cultura é provocar o
desenvolvimento. Envolver o meio empresarial nas atividades culturais e
artísticas, a médio e longo prazo, representará um alargar de horizontes e
ultrapassar barreiras ideológicas. Está mais do que na hora de traçar linhas de
orientação sem olhar a clubismos ou partidarismos. A cultura é de todos.
in “Notícias de Fafe” (23-02-2013)