Não
é porque o frigorífico lá de casa de chama Ariston (o melhor) ou porque prefiro
calçar sapatilhas da nike (vitória) que focamos a necessidade das línguas
clássicas, verificar a sua presença é importante para uma melhor e mais rápida
compreensão do léxico, mas perceber que através delas somos confrontados com
séculos de civilização é uma mais-valia para criar um espírito crítico sobre a
sociedade.
O
‘Pensar’ é tido nos tempos que correm como uma ação muito penosa. Dá trabalho e
isso cansa. Ter pessoas a pensar pode não ser muito agradável para o sistema
político. As pessoas que pensam, por norma, são mais exigentes. Mas há também
aqueles que pensam e têm ideias diferentes, causando embaraço sobretudo para os
‘agarrados’ do poder. Por outro lado, dar a ideia de uma sociedade intelectual,
mesmo que seja através de cursos rápidos, dá a sensação que somos importantes
e, de facto, não passa de uma ilusão ótica. O país vive de fachada de títulos
de ‘doutor’ ou, ainda mais grave, ‘amigo do senhor doutor’ dá sempre outra
pinta. Mas quem precisa disto? Os incultos, os pobres de espírito…
Esta
e outras questões são levantadas pelo que significam numa sociedade abandonada
em questões civilizacionais, onde impera o fator economicista em detrimento das
ciências sociais e humanas. O país está a formar, em grande escala, gente que
não sabe pensar sem fórmulas matemáticas e, sem sombra de dúvidas, esta questão
afeta a estrutura social. Não queremos dispensar a matemática, seja claro, nem
é disso que se trata, até porque a matemática ajuda à disciplina mental e é uma
das maiores recorrências dos clássicos, mas uma sociedade que seja dirigida só
a pensar em números comete muitas atrocidades.
Os
queixumes em relação às gerações das novas oportunidades, têm alguma razão de
ser, o que não se poderá fazer é que a vida seja uma constante ‘novas
oportunidades’. Encaminhar um aluno para um curso novas oportunidades é dar a
hipótese de uma formação mais prática e possivelmente motivar para o
prosseguimento de estudos ou um ramo profissional específico. O que não se deve
é querer que tudo seja encaminhado pelo que é mais fácil. A sociedade precisa
de gente capaz de construir opinião. Gente que não obedece às ordens só porque
os outros são dirigentes políticos, polícias ou qualquer outro cargo que possam
interferir de modo negativo nas suas vidas, mas sim gente capaz de raciocinar e
saber distinguir o bem do mal e, dentro da conduta desses padrões, exigir o que
é seu por direito. Todos os
cidadãos são iguais, por isso, formem-se Homens e não máquinas.
Pedro Miguel
Sousa, in Jornal Povo de Fafe (20-07-2012)