sexta-feira, 20 de julho de 2012

Estudar Latim e Grego?


            Não é porque o frigorífico lá de casa de chama Ariston (o melhor) ou porque prefiro calçar sapatilhas da nike (vitória) que focamos a necessidade das línguas clássicas, verificar a sua presença é importante para uma melhor e mais rápida compreensão do léxico, mas perceber que através delas somos confrontados com séculos de civilização é uma mais-valia para criar um espírito crítico sobre a sociedade.
            O ‘Pensar’ é tido nos tempos que correm como uma ação muito penosa. Dá trabalho e isso cansa. Ter pessoas a pensar pode não ser muito agradável para o sistema político. As pessoas que pensam, por norma, são mais exigentes. Mas há também aqueles que pensam e têm ideias diferentes, causando embaraço sobretudo para os ‘agarrados’ do poder. Por outro lado, dar a ideia de uma sociedade intelectual, mesmo que seja através de cursos rápidos, dá a sensação que somos importantes e, de facto, não passa de uma ilusão ótica. O país vive de fachada de títulos de ‘doutor’ ou, ainda mais grave, ‘amigo do senhor doutor’ dá sempre outra pinta. Mas quem precisa disto? Os incultos, os pobres de espírito…
            Esta e outras questões são levantadas pelo que significam numa sociedade abandonada em questões civilizacionais, onde impera o fator economicista em detrimento das ciências sociais e humanas. O país está a formar, em grande escala, gente que não sabe pensar sem fórmulas matemáticas e, sem sombra de dúvidas, esta questão afeta a estrutura social. Não queremos dispensar a matemática, seja claro, nem é disso que se trata, até porque a matemática ajuda à disciplina mental e é uma das maiores recorrências dos clássicos, mas uma sociedade que seja dirigida só a pensar em números comete muitas atrocidades.
            Os queixumes em relação às gerações das novas oportunidades, têm alguma razão de ser, o que não se poderá fazer é que a vida seja uma constante ‘novas oportunidades’. Encaminhar um aluno para um curso novas oportunidades é dar a hipótese de uma formação mais prática e possivelmente motivar para o prosseguimento de estudos ou um ramo profissional específico. O que não se deve é querer que tudo seja encaminhado pelo que é mais fácil. A sociedade precisa de gente capaz de construir opinião. Gente que não obedece às ordens só porque os outros são dirigentes políticos, polícias ou qualquer outro cargo que possam interferir de modo negativo nas suas vidas, mas sim gente capaz de raciocinar e saber distinguir o bem do mal e, dentro da conduta desses padrões, exigir o que é seu por direito.        Todos os cidadãos são iguais, por isso, formem-se Homens e não máquinas.
Pedro Miguel Sousa, in Jornal Povo de Fafe (20-07-2012)