sábado, 17 de setembro de 2011

Fafe, para quando marca própria?


A cidade de Fafe, sem qualquer sombra para dúvidas, é uma cidade agradável para visitar, o que já lhe deu o epíteto de ‘Sala de Visitas do Minho’ embora não acreditemos que esse tenha sido o principal objectivo para a atribuição de tal designação. E isto porque Fafe não tem bairrismo só nas aldeias que disputam quem vai ter a melhor escola ou o melhor lar e, às vezes, quem fica com a extensão de saúde… para não falar das estradas… o bairrismo está mesmo em todo o concelho.
Nem sempre é negativo este síndroma que atravessa gerações e gerações, mas ao longo do tempo é perceptível que em determinados momentos se tivesse existido maior capacidade de decisão e menos bairrismo tudo poderia estar mais evoluído e a qualidade de vida ser transversal a toda a população. Os governantes fafenses, por muito que até pretendam mostrar o contrário, vivem concentrados apenas nos seus quintais. Há alguns que até têm umas quintas, mas a maioria não tem mais do que uma simples horta e pensam que podem cultivar lá de tudo mas o terreno não chega.
Há uns anos a esta parte, a autarquia fafense tem apostado sistematicamente na volta a Portugal, uns dirão que é muito bom porque a cidade é falada durante todo o dia na comunicação social, mas quanto custa aos fafenses uma aposta destas? Qual é o retorno efectivo do investimento que se faz? Estas e outras questões são as principais linhas de análise para qualquer gestor mais ou menos atento. Com este exemplo não se pretende mostrar que a aposta está errada, até porque a festa é bonita, movimenta muita gente e também pode ser uma mais valia a longo prazo, mas para isso há a necessidade de reestruturar as linhas de ação do turismo e fazer com que os forasteiros que visitam Fafe no dia do ciclismo sintam vontade de voltar noutras épocas do ano.
Se a questão das iniciativas de Fafe para atrair a comunicação social têm de despender de avultadas quantias em dinheiro, pode-se concluir que algo está muito errado e, ao longo de todos estes anos, significa que ainda não apareceu nenhuma ideia que marcasse a cidade pela diferença e excelência, o que obrigaria a comunicação social procurar Fafe e não o contrário. Como exemplo concreto salientamos ‘Vilar de Perdizes’, que certamente já todos sabem do que se trata sem ter de se dizer o que lá se passa, uma terrinha muito pequena, mas todos os anos é notícia diversas vezes durante o ‘Congresso de Medicina Popular’, conseguindo chamar a atenção de todas as televisões.
Fafe, que perdeu uma das suas marcas ainda hoje faladas por todo o lado – o rali, precisa de colocar a criatividade a funcionar. Os governantes podem não ser os únicos que devam pensar no assunto, mas com toda a certeza deveriam ser os primeiros a criar condições para que tal possa acontecer. Uma contínua aposta na investigação dos usos e costumes do passado devem merecer uma atenção especial, mas que não fiquem pelos livros a dizer que ‘fomos os maiores’, é preciso mesmo reestruturar a cidade sem a descaracterizar e, para isso, tudo vai depender de uma maior aposta em matéria de questões culturais que possam ser determinantes na afirmação de Fafe.
Pedro Miguel Sousa
in Jornal Povo de Fafe (16-09-2011)