terça-feira, 5 de janeiro de 2010

As máscaras


A fala que se segue, retirada de uma peça de Moliére, é um reflexo do que a sociedade procura e eu teimo em não lhes dar... principalmente nas minhas crónicas jornalísticas, mas um dia também vou escrever (ou publicar) os meus textos dramáticos, por agora saboreemos e reflictamos nas palavras de uma das personagens da obra o Avarento de Moliére:


VALÉRIO
«…sob que máscara de simpatia me disfarço para lhe agradar e que personagem represento todos os dias para conseguir o seu afecto. Tenho feito consideráveis progressos e vou-me dando conta de que para ganhar os homens, não há melhor caminho do que o de, diante deles, fazer reverência às suas inclinações, adoptar as suas máximas, esconder os seus defeitos e aplaudir o que fazem. Não vale a pena ter medo de exagerar na complacência e no modo como gozamos com eles, pois mesmo os mais finos são sempre cegos quando se trata de lisonja e não há nada, por mais impertinente e ridículo que pareça, que não se lhes consiga fazer engolir, desde que bem temperado com louvores. A sinceridade sofre um pouco com este meu trabalho, mas quando precisamos dos homens, temos de nos ajustar a eles e como não conseguimos conquistá-los senão assim, a culpa não é dos que lisonjeiam mas dos que querem ser lisonjeados.»
Moliére, O Avarento, Europa - América (pág. 15/16)